A tropa da Polícia Militar mato-grossense para uso da repressão nem bem voltou às ruas de Cuiabá e já vivencia uma inversão de papéis. Reativada há quatro meses, a Rondas Ostensivas Táticas Metropolitanas (Rotam) tem dado mau exemplo, quando deveria servir de espelho para as instituições de segurança pública no Estado.
Casos envolvendo integrantes da corporação em atos de tortura, espancamento, assassinatos e coação psicológica se multiplicaram nos últimos meses e expuseram a fragilidade da formação dos oficiais.
O último caso de repercussão chocou a sociedade cuiabana. A grávida de oito meses, Ana Cristina Wommer, 24, foi encontrada morta em um matagal às margens da BR-364, saída para Rondonópolis, na última terça-feira. A causa da morte foi apontada em perícia como sangramento excessivo que ainda é investigado em outros exames sem resultados. O principal suspeito de ter cometido o assassinato e já preso temporariamente é o soldado da Rotam Claudemir de Souza Sales. Ele era casado, mas mantinha relacionamento extraconjugal com Ana. Antes de ela ser morta, foi com ele que a vítima se encontrou pela última vez, de acordo com investigações da Polícia Civil.
O carro do suspeito, vendido às pressas e recuperado pela polícia, já foi periciado e os testes comprovaram marcas de sangue no interior do automóvel. Porções de cabelo também foram encontradas no carro que teve partes do bagageiro descaracterizadas – o que reforça a tese de que o corpo de Ana teria sido colocado no compartimento para posterior desova no matagal.
O bebê que a jovem esperava não teve chances de nascer de forma digna. A filha de Ana que se chamaria Maria Eduarda chegou a ser expelida por ela durante o crime. O bebê foi encontrado preso junto ao corpo da mãe. A polícia quer saber se o parto foi espontâneo ou provocado pela ingestão de substâncias. Além do PM, mais dois suspeitos são investigados.
À reportagem do Diário, o comandante da Polícia Militar de Mato Grosso, coronel Osmar Lino de Farias, informou que Claudemir era estagiário da Rotam e não membro efetivo da corporação, apesar de já efetuar abordagens nas ruas de Cuiabá. “Ele era estagiário e não usava uniforme da corporação”, confirma. Ao longo da semana, Farias se mostrou indignado com o caso e reforçou que o bom profissional da polícia, ainda mais da Rotam, deve ter conduta ilibada, sem máculas.
Os familiares de Ana fizeram protesto silencioso em frente ao Comando Geral da PM, em Cuiabá. Um longo cortejo fúnebre de mãe e filha passou em frente ao órgão. Os familiares agora aguardam o fim do inquérito.
DOM AQUINO – O açougueiro Nataniel Leite, 37, viveu momentos de pânico quando tentava defender o cunhado de um grupo de PMs da Rotam no bairro Dom Aquino, no início deste mês, em Cuiabá. Ele acabou agredido em várias partes do corpo. À época, a PM informou que coibia uso de drogas no local. Após quase um mês, a mulher de Natanael, Lorena Rodrigues, aponta que o marido não é mais o mesmo. “Ele não gosta de se lembrar do fato. Nós estamos evitando até de ir ao local onde tudo aconteceu”, reforça. O açougueiro ainda vai responder na Justiça por crime de desacato e lesão corporal em desfavor de um policial do grupo da Rotam. Uma audiência está marcada para acontecer nesta terça-feira. “Eu não me conformo com isso. De vítima eu passei a culpado”, disse Natanael ao Diário, na época.
Outro acontecimento com homens da Rotam, cujo procedimento investigativo foi aberto pela Corregedoria da PM, foi a abordagem que fizeram para prender assaltantes que arrombaram o caixa-eletrônico de um drogaria na avenida Mato Grosso, neste mês. Na ação, além de um dos bandidos ser ferido à bala pelos PMs, o dono do estabelecimento também foi espancado pelos militares, após o confundirem com um dos assaltantes.