A primeira reclamação de Felipe para a mãe, Abigail Singnoreti, foi de dores na perna. Depois, vieram a apatia, a falta de apetite e, por fim, os gânglios na nuca. A princípio, ela pensou se tratar de mononucleose. O diagnóstico, no entanto, foi mais “assustador” do que Abigail esperava. Aos seis anos de idade, Felipe estava com Leucemia Linfóide Aguda. A vida de Felipe foi salva graças a um medicamento chamado L-Asparaginase, que a partir de 2015 passará a ser produzido no Brasil por meio de uma Parceria de Desenvolvimento Produtivo (PDP) entre a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e os laboratórios privados NT Pharma e Unitec Biotec.
“Quando ele foi diagnosticado, em novembro do ano passado, tinha 85% da medula tomada pela leucemia e o sangue periférico estava em 90 mil blastos, que é uma quantidade altíssima de células comprometidas”, lembra a mãe. Felipe passou 12 dias internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e precisou tomar nove injeções do L-Asparaginase. Aos poucos, o organismo dele foi se recuperando e a presença da leucemia na medula caiu de 85% para 0,06%.
Essencial para a cura da doença, o L-Asparaginase era comprado pelos serviços do Sistema Único de Saúde (SUS) habilitados em oncologia até o final do ano passado. Porém, a empresa brasileira que o distribuía informou ao governo federal que o produtor estrangeiro havia interrompido a fabricação e que os estoques durariam somente até meados deste ano.
Abigail conta que esse anúncio foi um momento de grande preocupação. “O remédio é muito eficaz para a sobrevida do paciente. Quando veio essa notícia eu fiquei muito tensa. Até liguei para algumas importadoras, pra tentar comprar o medicamento. E os preços que me passavam eram uma coisa absurda. Variava de R$ 500 a R$ 2.500 a quantidade de doses que a gente precisava”.
Para evitar que o desabastecimento do L-Asparaginase ocorresse e afetasse outras crianças na mesma faixa etária que o filho de Abigail, o Ministério da Saúde investiu R$ 17,6 milhões na compra de 52.300 frascos, quantidade suficiente para suprir toda a demanda nacional (mais de três mil crianças) por um ano. A ação foi feita em parceria com a Sociedade Brasileira de Oncologia Pediátrica (SOBOPE).
“A possibilidade de faltar o medicamento realmente me preocupou. A gente passa por muitos momentos de estresse, dificuldade, incerteza, insegurança. E ter que se preocupar com mais esse item, se vai ter ou não esse medicamento, é muito desgastante”.
Após oito meses de tratamento, Felipe continua sendo acompanhado pelos médicos para garantir que a medula não volte a produzir células leucêmicas e a mãe dele ainda se emociona com o apoio dos amigos, parentes e profissionais de saúde. “Os amiguinhos da escola faziam desenhos, davam presentes. Todo mundo mandava terço, óleo, água benta, uma mobilização muito grande em nosso entorno, para nos ajudar a seguir em frente”, conta.
Ministério da Saúde
IG