Os números de importação do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior confirmam o que o espaço aberto em gôndolas nas redes varejistas, além da maior oferta em botecos e restaurantes descolados, já vinha indicando: cresce o consumo de cervejas importadas no Brasil. Nos últimos cinco anos, os gastos com importação mais que dobraram. Pularam de U$$ 1,763 milhão para US$ 3,744 milhões.
A descoberta de outros sabores além da consagrada “pilsen leve”, que domina o mercado de quase 10 bilhões de litros bebidos por ano no País, começa a crescer. A participação das chamadas cervejas especiais, categoria que abriga as importadas, é de cerca de 7% desse total. Mas traça trajetória ascendente. E rápida, avaliam analistas do setor. Nem mesmo os preços, entre R$ 6,00 e R$ 40,00, são impedimento.
Embora principiantes nesse cenário de farta oferta de rótulos, os consumidores brasileiros já demonstram sofisticação no apetite. As cervejas alemãs e belgas, consideradas as melhores em sabor e qualidade, lideram a preferência de quem migrou para as importadas nos últimos dois anos, em detrimento das mexicanas. Há cinco anos, era o contrário, por conta da onda das embalagens long neck atreladas a um pedaço de limão na borda, consumida à farta pelos jovens.
Ambev
A melhora do apetite nacional, em especial do consumidor de maior poder aquisitivo e mais velho, desperta a cobiça entre os envolvidos com o negócio da cerveja. A importação, até o ano passado dominada por pequenas empresas, ganha agora a concorrência da gigante AmBev, dona de quase 70% do mercado convencional. E sua chegada causa desconforto. Suas práticas, tidas como pouco ortodoxas, são o que mais assusta os concorrentes.
“A entrada deles vai ampliar o mercado, indiscutivelmente, mas é uma ameaça por conta do poder econômico que eles impõem nas negociações com os varejistas”, diz o diretor da Bier & Wein Importadora, Marcelo Stein. Há dez anos sua empresa começou a trazer cervejas da Alemanha, entre as quais duas marcas que conquistaram o paladar mais refinado por aqui: a Franziskaner, cerveja de trigo de alta fermentação, e a Löwenbräu, tipo lager e baixa fermentação, mais próxima das pilsens mais conhecidas por aqui.
Porém, as duas cervejas pertencem ao portfólio da InBev, a multinacional belga dona da AmBev. E, desde o ano passado, quando a filial brasileira criou uma Central de Importação, passaram a ser importadas pela própria AmBev. “Fomos comunicados, por e-mail, em fevereiro, que não representaríamos mais essas marcas a partir de abril”, conta Stein. “O pior, entretanto, é que ficamos impedidos de vender outros rótulos de nosso portfólio nas chamadas ‘casas AmBev’, àquelas que, por contrato, ficam obrigadas a trabalhar somente com a linha de produtos deles.”
A Bier & Wein ficou com a vantagem de comercializar a Erdinger, líder de vendas do mercado, segundo Alexandre Carlos de Campos, dono da distribuidora Imigrantes Bebidas, uma empresa que, há quatro anos, vendia cinco marcas de cerveja em meio a uma carteira com mais de 3 mil produtos. Hoje orgulha-se de oferecer 45 rótulos para pronta entrega.
A uruguaia Norteña, outra que caiu no gosto do brasileiro, vinha para o Brasil por mãos da importadora Multicarnes, que também perdeu a operação para a AmBev. Como dona da marca no Uruguai, a companhia passou a distribuí-la no Brasil. Em breve, ampliará seu portfólio trazendo uma leva de cervejas belgas do portfólio da InBev.
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