terça-feira, 14/05/2024
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Especialista em “bolhas” alerta para riscos em Bolsas

Especialista em “bolhas”, o professor Robert Shiller, da Universidade Yale, alerta sobre os sinais preocupantes daquilo que Alan Greenspan, que comandou o Federal Reserve (o BC dos EUA) por 18 anos, chamou de “exuberância irracional” no preço das ações. No entanto o economista afirma que os papéis não estão tão caros quanto em 2000, época da “bolha” da internet -Shiller foi um dos poucos a prever o estouro.

Divulgação

O professor Robert Shiller alerta para o risco de bolhas nas Bolsas de Valores
Ele diz que ainda vê preços baixos nos papéis brasileiros. Para ele, o “grau de investimento” pode levar a uma forte especulação imobiliária em São Paulo. Diz ainda que a China é um terreno fértil para o desenvolvimento de “bolhas”. Cético, afirma que os mercados nunca aprendem totalmente com a história. E por uma razão: concluem que ela é irrelevante.

FOLHA – As Bolsas batem recorde atrás de recorde. Estamos vendo o mesmo filme de 2000, antes do estouro da “bolha” da internet?
ROBERT SHILLER – Os preços das ações nos EUA estão altos, mas não tão exuberantes como no final dos anos 90. Um sinal de que as coisas não estão bem é quando as pessoas começam a falar que as ações estão caras ou podem ficar muito sobrevalorizadas. E não temos isso agora. Hoje, as pessoas parecem mais seguras sobre o valor das ações -talvez mais do que deveriam.

FOLHA – Quais sinais alertam para a potencial formação de “bolha”?
SHILLER – A maior fonte de preocupação são os preços das casas nos EUA, que podem cair. Empréstimos ruins no setor podem levar a isso. A onda de fusões e aquisições e o avanço dos fundos de “private equities” [participação fechada em empresas], que tiveram papel importante na gestão de recursos, trazem uma dose de superempolgação, o que é preocupante. Há um boom nas ações na China e na Índia. Também há especulação nos EUA e no Reino Unido. Quando essas “bolhas” explodem, podem causar uma recessão global.

FOLHA – As ações brasileiras nunca tiveram preços tão altos em relação ao lucro das empresas. Há uma “bolha” na Bovespa?
SHILLER – A Bovespa é uma das mais bem-sucedidas Bolsas do mundo. Mas os preços no Brasil ainda estão baixos em relação ao resto do mundo. As coisas mudaram rapidamente no Brasil. E as pessoas concluem que se trata de uma nova era -o que de certa forma é. E pode alimentar uma “bolha”.

FOLHA – O Brasil vende o álcool como o combustível do futuro. A receptividade internacional chegou ao ponto de elevar os preços das terras e de faltar máquinas no campo. Há uma “bolha” em formação?
SHILLER – O Brasil tem uma vantagem, que é ser pioneiro na tecnologia. Mas não vejo uma força particularmente importante na produção, que pode ser feita em outras partes do mundo. O Brasil pode perder essa vantagem muito rapidamente se outro país investir pesado em tecnologia. Isso é algo que deve ser nutrido e agora. Mas pode ser demais, sim.

FOLHA – Os bancos chineses já figuram entre os maiores do mundo em valor de mercado. As ações estão com preços irreais na China?
SHILLER – Estou realmente preocupado com o preço das ações na China, que é um lugar potencial para o desenvolvimento de “bolhas”. Parte das razões é que os mercados emergentes tendem a enfatizar mais o setor financeiro do que o produtivo. As pessoas observam o milagre econômico e isso estimula a imaginação. Elas não têm uma expectativa clara dos preços das coisas. Alan Greenspan fez um favor para a China alertando sobre isso.

FOLHA – O aumento do imposto chinês na Bolsa é um bom caminho para evitar o superaquecimento?
SHILLER – Tenho dúvida. Mais eficientes são os aumentos dos juros, o que a China está fazendo. O melhor é desenvolver o mercado. E isso ela pode fazer. Pode permitir operações curtas [como “day trade”], negociar índices futuros e permitir que os chineses invistam em ações em outras partes do mundo -eles não têm onde investir.

FOLHA – O fluxo de dinheiro para os emergentes veio para ficar? Moedas como o real só tendem a subir?
SHILLER – Não vejo uma reversão tão cedo [da alta do real]. Ela se deve ao boom de commodities e à impressão positiva da economia. Mas tudo pode mudar. No Brasil, se os juros seguem altos é porque as pessoas continuam preocupadas com o real. [O contrário] Seria muito bom para ser verdade.

FOLHA – O “grau de investimento” deve baixar os juros no Brasil? Quais setores podem ter um superestímulo a ponto de criar uma “bolha”?
SHILLER – O FMI afirma que o crédito barato é um dos fatores que levam ao aumento nos preços dos imóveis. E isso começa a acontecer no Brasil. Conforme fica mais fácil emprestar, as pessoas podem elevar os preços das casas. O preço das casas não subiu no Brasil como aconteceu em outros países.

FOLHA – Como seria essa “bolha”?
SHILLER – Os preços das casas sempre subiram mais por conta dos custos da construção do que da localização. Nos EUA, isso está mudando. De acordo com um estudo do Federal Reserve [o BC dos EUA], o preço do terreno responde por 50% do custo de um imóvel. Há poucos anos, era só 25%. De alguma forma, estar próximo da cidade é importante. No Brasil, a riqueza está toda em São Paulo. A cidade pode ficar muito cara.

FOLHA – Os mercados aprenderam com as crises do México e da Ásia?
SHILLER – Aprendemos lições com o passado. Após o “crash” de 1929, não houve um novo boom nos mercados por um longo período. As pessoas pararam de apostar todo o dinheiro num mesmo ativo. Mas elas nunca aprendem tudo. Não é que simplesmente esqueçam a história, mas concluem que algumas partes dela são irrelevantes. Infelizmente, não tenho uma cura para “bolhas” -elas vêm e vão por causa da psicologia humana.

FOLHA – Sempre haverá “bolhas”?
SHILLER – Não sei. O que verificamos é que virtualmente não existiram “bolhas” até o século 16. A primeira foi a da tulipa, na Holanda, no século 16. E a Holanda foi o primeiro país que teve uma imprensa livre. A “bolha” é uma epidemia social que precisa de comunicação entre as pessoas para se propagar. Com a internet, ficou e ficará ainda pior. Por outro lado, a informação deixou o mundo mais parecido e faz com que os mercados evoluam juntos, diminuindo o efeito devastador quando as “bolhas” estouram.

FOLHA – Escândalos de corrupção podem prejudicar as ações no Brasil?
SHILLER – Os escândalos têm o potencial de prejudicar o mercado. Isso aconteceu na Ásia antes da crise. Os escândalos no Brasil não parecem preocupar os investidores. Lula foi reeleito e os escândalos não o envolvem diretamente. O impeachment de Collor [em 1992] mostrou que o país está fazendo as coisas certas.

FO

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Parmenas Alt
Parmenas Alt
A estrada é longa e o tempo é curto. Não deixe de fazer nada que queira, mas tenha responsabilidade e maturidade para arcar com as consequências destas ações.
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