segunda-feira, 13/05/2024
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O horário de verão adverte: adiantar o relógio causa infarto

Desde ontem [18] vigora o horário de verão, que vai até 21 de fevereiro de 2016. Em dez Estados, além do Distrito Federal, os relógios foram adiantados em 1h. Mas o que é motivo para alívio nas contas do Governo Federal, é de preocupação para pessoas, principalmente maiores de 60 anos. Isso porque, conforme pesquisa feita por professor da Universidade do Estado de Mato Grosso, Câmpus de Cáceres, centenas delas devem morrer nas primeiras semanas da mudança.

O trabalho realizado por Weily Toro Machado em coautoria com Robson Tigre e Breno Sampaio [orientador] mostra fortes evidências de que o horário de verão aumenta o número de mortes por infarto em 8,5% nas primeiras semanas, e a incidência cresce entre as pessoas maiores de 60 anos. “Num período de sete dias haveria 197 mortes a mais no Brasil, nos Estados do Sul, Sudeste e Centro-Oeste”, afirma Weily.

Segundo o professor, a explicação estaria na alteração imposta pelo horário de verão, quando as pessoas passam a dormir uma hora a menos. Isso provoca uma alteração no relógio biológico dos indivíduos, o que pode ocasionar morte por Infarto Agudo do Miocárdio.  

A investigação ganhou repercussão internacional. Além do primeiro capítulo da tese de doutorado na Universidade Federal de Pernambuco, com o título Daylight Saving Time and incidence of Myocardial Infarction: Evidence from a regression discontinuity design, ter sido publicado na Revista Economics Letters, considerada uma das 50 revistas mais importantes de Economia no mundo pelo site americano Ideas, o jornal britânico Mail Online News fez uma matéria sobre o assunto.

A pesquisa levantou dados entre 2007 e 2012 das três regiões que adotam o horário de verão, compostas pelos Estados de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Espírito Santo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e também o Distrito Federal. Constatou-se que o mesmo fenômeno não ocorre ao final do período e nem em semanas que antecedem seu início.

Foram coletados dados diários de mortes provocadas por infarto no Brasil, no Sistema de Informação sobre Mortalidade [SIM] do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde [SIM/DATASUS]. Eles foram analisados pelo método Regression Discontinuity Design, um dos melhores para esse tipo de pesquisa.

“Preciso saber o que aconteceu quando começou o horário de verão no dia 18 e o que ocorreu um dia antes [17]. Preciso de um método que vai trazer isso para mim. Esse método faz essa comparação e consegue medir o efeito, considerando outros fatores que podem interferir na morte. Por exemplo, o infarto pode ser causado por n fatores, pela própria temperatura, por histórico familiar, pela pessoa se alimentar mal, se faz exercício físico, se é obesa. Mas esse método ignora essas variações e vai pegar exatamente o efeito que ocorre, levando em conta que o horário de verão foi a única mudança na rotina daquele indivíduo que sofreu o infarto”, explica.

Para Breno Sampaio, orientador do trabalho, “o horário de verão é um bom experimento natural para analisar impactos no cotidiano das pessoas, pelo caráter exógeno que tem em nossas vidas”.

Segundo o pesquisador Robson Tigre, mais de 70 países no mundo utilizam o horário de verão com o intuito de reduzir o consumo de energia elétrica, afetando mais de 1,5 bilhão de pessoas. “Esta pesquisa é inédita para o Brasil e a primeira a usar essa metodologia que permite identificar a causalidade”, afirma.

Diante dos resultados da pesquisa, Weily quer que o documento sirva para iniciar discussão sobre o tema no país. Averiguações semelhantes são feitas em outras localidades, como Austrália e Estados Unidos, que também mostram como a mudança faz mal ao organismo. Depressão, transtorno bipolar e suicídio são algumas das consequências verificadas. Ele quer mostrar também a importância dos governantes redobrarem a atenção na saúde nesse período do ano.

Os dados são apenas do primeiro capítulo da tese do professor. Outras informações também são reveladas, como o aumento de internação por diabete e redução da morte por arma de fogo. Ambas as pesquisas serão concluídas até o final do ano.

O professor deixa claro que não analisa se o horário de verão é bom ou ruim. Aponta apenas as consequências dele. “O que eu posso falar enquanto cidadão é que nenhuma morte pode representar algum valor. ‘Ah, vai economizar tantos bilhões’. O que isso representa para você? Você trocaria os tantos bilhões para ter seu parente de volta”, avalia sobre a economia que o horário de verão representa aos cofres do governo.

Estado, União e o horário de verão

O governo de Mato Grosso, por meio da assessoria, aponta que o horário de verão é de responsabilidade exclusiva da União e, por isso, é obrigado a aderir. Existem cidades no Estado, como Barra do Garças, que alteram o horário de funcionamento do comércio, o que, consequentemente, faz com que a população organize a vida sem levar a mudança em consideração. Assim, não alteram o horário imposto pelo Governo Federal.

Já a União, que tem no Ministério de Minas e Energia o responsável pelo setor, ignorou a pesquisa e seus resultados. As perguntas enviadas por e-mail sobre o assunto não foram respondidas, mesmo com nova solicitação. O Ministério, por meio da assessoria, só mostrou em números quanto a União vai poupar de investimento com a adoção do horário de verão. Em entrevista coletiva transmitida em rede nacional pelo aplicativo Periscope, o secretário executivo do Ministério, Luiz Eduardo Barata, também não respondeu a pergunta enviada, focando as falas na economia.

Ele explicou que, com o novo horário, o governo deixa de gastar R$ 7 bilhões. Isso porque precisa injetar mais recursos devido ao horário de pico entre 18 e 21h para conseguir sustentar a energia. Com a mudança, os picos ficam distribuídos no país. Dessa forma, a economia não chega ao consumidor em si, mas sim por não haver tanta necessidade em investir em novas fontes de geração de energia. Questionado sobre estudos para que o país deixe de adotar a mudança, Barata diz que não existem, pois os benefícios sempre ocorrem no horário de verão.

No Brasil, o modelo é aplicado desde a década de 1930, na gestão de Getúlio Vargas, com alguns intervalos. Mais recentemente, passou a vigorar por meio do Decreto nº 6.558, de 8 de setembro de 2008, revisado pelo Decreto 8.112/2013.

Outros benefícios da menor demanda no horário de ponta, além da redução dos investimentos no sistema elétrico, são o aumento da segurança operacional, decorrente da diminuição dos carregamentos na rede de transmissão; maior flexibilidade operativa para realização de manutenções e menos cortes de carga em situações de emergência no sistema elétrico; e diminuição dos custos de operação do Sistema Interligado Nacional.

 

http://www.revistafapematciencia.org/noticias/noticia.asp?id=839

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Parmenas Alt
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