quarta-feira, 15/05/2024
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Tempos de Furia

No jogo de um mundo cada vez mais regrado pela rapidez em se realizar tarefas e pelo trânsito caótico que atinge as grandes cidades, o ganhador é sempre o estresse e o perdedor, a paciência. E, muitas vezes, também a vida.

Diariamente, atos bárbaros cometidos em situações cotidianas, que poderiam ser resolvidas com uma conversa, evoluem para pancadarias e mortes. De acordo com uma pesquisa nacional do Instituto Latino-Americano das Nações Unidas para prevenção do Delito e Tratamento do Delinqüente, 70% dos homicídios são causados por motivos fúteis.

Em março, o designer Antônio*, de 25 anos, envolveu-se em uma briga de trânsito com L. L., por bobagem, e acabou tomando uma surra. “Ele me fechou com o veículo, depois um chegou a bater no carro do outro até pararmos para brigar na rua. Olhando friamente, nenhum dos dois tinha motivos, mas ele perdeu qualquer razão quando já chegou batendo”, conta Antônio. O flagrante foi registrado pelo fotógrafo Alex Silva que estava próximo ao local. “Vi a briga e comecei a fotografar. Hoje, isso é uma cena normal. O pessoal anda muito irritado com o trânsito”, afirma Silva.

No final de semana dos dias 23 e 24 de maio, mais episódios provocados por discussões de trânsito chocaram o País. Em São Paulo, o estudante Alexandre Andrade Reyes, de 18 anos, morreu com um tiro por causa de uma freada brusca. Ele estava no banco de trás do carro do amigo, que freou em um quebra-molas e quase colidiu com o carro da frente. Todos desceram, a briga começou, e o motorista da frente, Ismael Vieira, de 23 anos, atirou. Ele se entregou à polícia no último domingo, dia 1 de junho, e em defesa alegou legítima defesa. “Não atirei para matar”, disse em coletiva de imprensa.

No Rio de Janeiro, o funcionário público André Luiz Reuter Lima, de 45 anos, continua em coma, com traumatismo craniano severo, por ter sido agredido na cabeça com uma chave de rodas por um motorista. Ele atravessava a rua com os dois filhos quando Itamar Paiva avançou o sinal vermelho com o carro. Trocaram insultos. O motorista tentou atropelar Lima e os filhos dele e partiu para a briga.

De acordo com o psiquiatra comportamental e professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Geraldo Possendoro, quando a pessoa passa por um momento de estresse há alterações físicas que podem afetar o comportamento. “O corpo libera cortisol, um hormônio importante em momentos de tensão, quando o índice de glicose aumenta no sangue.

A pessoa também respira rápido e tem taquicardia. Quando liberado repetidamente, contudo, o cortisol prejudica o sistema imunológico, o que afeta a saúde e o sistema nervoso”, explica.Barbárie
Outro caso cujas imagens chocaram o Brasil foi do gerente de vendas Salvatore Espósito, de 53 anos, que apanhou na calçada da Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio de Janeiro, porque o carro dele enguiçou. O episódio foi filmado por um cinegrafista amador.

“Parei, liguei o pisca-alerta e ia empurrar o carro para a calçada, mas o outro motorista veio em alta velocidade, ele não conseguiu brecar e bateu no meu carro. Então, desceu gritando e partiu para agressão. Apanhei, fraturei o nariz e desmaiei na rua”, conta Espósito, que hoje não consegue mais dirigir sozinho por pânico.

Há uma semana, o agressor, Marcelo José da Silva Bayer, foi condenado pela Justiça a 10 meses de detenção em regime aberto.

Uma pesquisa sobre criminalidade na cidade de São Paulo revelou que, no ano passado, dos 1.534 homicídios que foram registrados, 15% foram por discussões fúteis. “Em aproximadamente 70% dos casos, o autor não têm antecedentes criminais”, conta o tenente Pedro Luis de Souza Lopes, que coordena a análise criminal da Polícia Militar da capital. Ele completa ainda que 10% dos casos foram entre pessoas que se conhecem.

É assim a história do irmão que foi assassinado por outro a enxadadas, depois de um desentendimento, após uma partida de futebol. O caso aconteceu no começo de março, na zona leste de São Paulo, em um jogo entre Palmeiras e Corinthians. Durante a discussão, Erick Silva de Oliveira, de 24 anos, pegou uma enxada e matou a golpes Roberto Silva de Oliveira, de 34 anos. A família não se conforma. Um terceiro irmão, que não quis se identificar, afirmou que a briga já era antiga e que Erik era uma pessoa doce e responsável. “Ele era calmo, trabalhava, ajudava a família, e agora está preso, estamos sofrendo muito”, diz.

Para o psiquiatra forense Antonio José Eça, quem comete esse tipo de ato de violência já tem uma predisposição ao crime. “É genético. Quando é dado um estímulo externo, acontece o barbarismo. Também, dificilmente isso aconteceu uma só vez, quando dissecamos a personalidade de uma pessoa dessas, sempre há um histórico que indica a potencialidade criminosa”, explica.

Eça trabalhou por 25 anos como chefe de psiquiatria da Polícia Militar em São Paulo, além de mais alguns anos no Manicômio Judiciário do Estado, para onde vão os criminosos com doença mental. O especialista relembra a história de um assassino que esquartejou duas mulheres e hoje está preso. Durante as sessões de terapia na polícia, psicopata revelou que, quando criança, gostava de enforcar gatos. “Ele relatou que contava no relógio o tempo que o bicho demorava a morrer, para dividir o tempo em sete e assim saber quanto tempo dura cada uma das sete vidas de um gato, só isso já era um indício do potencial dele para crueldade”, analisa.

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Parmenas Alt
Parmenas Alt
A estrada é longa e o tempo é curto. Não deixe de fazer nada que queira, mas tenha responsabilidade e maturidade para arcar com as consequências destas ações.
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