terça-feira, 14/05/2024
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UMA FALTA DE EDUCAÇÃO!

O Brasil é um país sem educação! Com altos índices de analfabetismos, onde
dia a dia aumentam os analfabetos funcionais, onde a media de livros lidos
por pessoa não chega a cinco por ano e onde para ser um representante do
povo não é necessária nenhuma formação, basta saber ler e escrever (?),
tanto que nosso presidente tem apenas um curso técnico de torneiro mecânico.
O que esperar então deste país se não que se rasguem mesmo os diplomas?

Não poderíamos esperar de fato outra ação que não fosse essa dos ministros
do STF coordenados pelo ministro Gilmar Mendes. O mesmo ministro que ficou
tão ofendido quando um colega o relembrou do coronelismo existente em Mato
Grosso, toma agora uma atitude um tanto coronelista, a de acabar com a
educação dos jornalistas.

Mas para que mesmo queremos jornalistas formados? Que tenham cabeças
pensantes, ideais a serem seguidos e sejam tão difíceis de manipular? Assim
como para os coronéis um povo educado não serve porque não vota em quem o
patrão manda, para o Brasil jornalistas formados, técnicos, capacitados e
críticos também não servem porque estes não se deixam manobrar e são bem
mais caros de se pagar.

Não estou desvalorizando os jornalistas da prática e vocação, afinal eles
são merecedores de todo mérito, mas faço a eles uma pergunta: porque mesmo
não buscaram a faculdade de jornalismo? Dificuldades financeiras? Tinham que
trabalhar? Ora, ora, o que os faz tão especiais? Bem me lembro da minha
faculdade, conquistada com muita luta e suor. Trabalhava dia e noite,
madrugadas a dentro para conseguir um mísero salário para pagar ao menos a
mensalidade. Quantas caminhadas dei de casa a faculdade por não ter dinheiro
para passagem de ônibus. Quantos dias passei só com um pão com manteiga
porque não tinha dinheiro para o almoço. Sobrevivi, me formei e na formatura
do baile não participei porque o pacote não cabia no meu bolso, mas o
diploma agarrei.

E claro que precisei da prática e sem ela nada seria e assim virei
jornalista porque no dia a dia do trabalho me especializei. Agora se era tão
difícil assim fazer faculdade para entrar no mercado porque não sentar no
banco escolar mesmo depois de experiente, apenas para garantir as melhores
técnicas e melhores performances? Mas ai é pedir demais não é? Depois que o
menino vira estrela de jornal não cabe na sala de aula, a arrogância é
demais e ai vira um defensor da falta de educação! Por que é nobre ser um
trabalhador. Num país de trabalhadores não há discurso melhor!

Em seu voto o ministro relator se justificou defendendo a liberdade de
expressão, mas essa nunca esteve de fato em jogo. Não numa época onde
existem tantos blogs, tantas páginas na internet, tantos canais de
televisão, tantas rádios, revistas e jornais, todos com espaços para artigos
de quem quer que seja expressando sua opinião sobre os mais diferentes
assuntos.

Não a liberdade de expressão nunca esteve em jogo! O que estava em jogo na
decisão do STF contra o diploma dos jornalistas era justamente a legalização
do ilegal. Afinal este foi o editorial de muitos que aplaudiram os Ministros
por terem legalizado os meios de comunicação que contratam pessoas sem
diploma que trabalham por salários abaixo da tabela?

Mas agora eu quero ver, juro que quero, pago pra ver, quantos médicos vão se
prestar a fazer matérias sobre a influenza A, quantos veterinários
escreverão sobre a leishmaniose, quantos engenheiros farão passagens em
frente a obras inacabadas explicando os projetos superfaturados, quantos
advogados deixarão seus casos bem pagos para escreverem nos jornais???

Infelizmente não acredito neste cenário. Não, estes profissionais formados
no máximo continuarão dando entrevistas como sempre deram ou escrevendo
artigos como sempre escreveram, nos meios de comunicação onde sempre tiveram
espaço para sua liberdade de expressão.

Quanto ao jornalismo, vejo um cenário bem mais triste, com ignorantes
saídos, no máximo do segundo grau, com uma boa voz e uma carinha bonita,
sendo treinados e manobrados pelos meios de comunicação por irrisórios
salários.

Era justamente um cenário desse que estávamos mudando aqui no interior de
Mato Grosso, ao conscientizar os colegas de que é importante estudar, não
apenas garantir o diploma, mas se especializar, buscar até mesmo o mestrado
e o doutorado e morrer estudando e lendo, sempre se modernizando e se
mantendo competitivo no mercado de trabalho. Estávamos, é verdade, no
passado mesmo! Porque hoje estes colegas não vêem mais motivo para se
aperfeiçoar.

Sem falar das brechas, ou melhor crateras, que essa decisão faz em nossa
lei, abrindo precedentes infinitos. Como bem disse o único ministro com bom
senso no STF, Marco Aurélio Mello, que votou em favor do diploma: “Se for
assim, a CNH fere o direito de ir e vir. Vamos abolir a CNH”. E olha que tem
muito motorista excelente que nunca tirou a CNH.

Mas esse é o meu país! O país do jeitinho brasileiro. Onde o trabalhador
analfabeto dá uma de engenheiro civil e arquiteto e constrói seu próprio
casebre, dá uma de engenheiro eletricista e puxa um gato para garantir a
energia elétrica, dá uma de médico especialista e se auto medica, dá uma de
advogado e faz um contrato inconstitucional e dá uma de jornalista e escreve
com erros de português grotescos e erros éticos e morais aviltantes que
ferem a integridade de centenas de pessoas.

A diferença é que os engenheiros e arquitetos podem recorrer aos CREAs, os
médicos aos CRMs, os advogados as OABs e os jornalistas, estes não podem
recorrer a Fenaj, aliás nada podem fazer por que as pessoas comuns e sem
nenhum estudo agora estão respaldadas pelo STF.

Parabéns ministros, parabéns Brasil, por estimular a nossa grande falta de
educação!!

*Daniela Melhorança, jornalista formada pela Faculdade Cásper Líbero/SP, com
15 anos de experiência no mercado de trabalho de São Paulo e Mato Grosso.
Atual representante do município de Sinop no Sindicato dos Jornalistas de
Mato Grosso.*

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Parmenas Alt
Parmenas Alt
A estrada é longa e o tempo é curto. Não deixe de fazer nada que queira, mas tenha responsabilidade e maturidade para arcar com as consequências destas ações.
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