terça-feira, 14/05/2024
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A verdade científica por trás da lenda do chupa-cabra

Hist&oacuterias de monstros costumam fazer sucesso no mundo todo, mas o fato de eles insistirem em viver no fundo de lagos, em terras distantes ou nos confins das florestas tornam suas supostas apari&ccedil&otildees em ocasi&otildees raras e muitas vezes duvidosas.

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Assim, n&atildeo &eacute por acaso que nossos conhecimentos sobre eles v&ecircm quase exclusivamente de imagens borradas ou relatos pouco confi&aacuteveis.

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Essa imagem m&iacutestica foi o que atraiu Benjamin Radford, pesquisador do Comit&ecirc para a Investiga&ccedil&atildeo C&eacutetica (CSI, na sigla em ingl&ecircs), para a hist&oacuteria do chupa-cabra, uma suposta criatura vampiresca que ganhou fama mundial nos anos 1990, do M&eacutexico &agrave R&uacutessia, passando pelo Brasil e os Estados Unidos.

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Relatos sobre o chupa-cabra apareceram pela primeira vez em Porto Rico em meados dos anos 1990. Eles descreviam uma criatura b&iacutepede de quase um metro e meio de altura com olhos grandes, espinhos nas costas e longas garras.

Essa criatura, segundo esses relatos, estaria matando animais de cria&ccedil&atildeo para corte e chupando seu sangue – da&iacute seu nome popular.

Primeiro relato

Em sua longa pesquisa, que levou cinco anos e demandou viagens por v&aacuterias regi&otildees, Radford localizou at&eacute mesmo a primeira pessoa a relatar ter visto a criatura: Madelyne Tolentino, da cidade de Can&oacutevanas, no leste de Porto Rico. Em 1995, ela disse ter visto uma criatura parecida com um alien da janela de sua casa.

O impressionante da hist&oacuteria &eacute a rapidez com que ela se espalhou. Ap&oacutes mais relatos de gente que disse ter visto a criatura, e a liga&ccedil&atildeo feita na m&iacutedia local com animais de gado encontrados com o sangue extra&iacutedo, a viraliza&ccedil&atildeo foi incontrol&aacutevel.

Ela primeiro se espalhou por Porto Rico, depois pelo resto da Am&eacuterica Latina e o sul dos Estados Unidos. No Brasil, uma reportagem sobre o chupa-cabra no programa&nbspDomingo Legal&nbsp, no SBT, em 1997, levou a uma onda de supostas apari&ccedil&otildees da criatura por todo o pa&iacutes.

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A lenda se espalhou at&eacute mesmo online, nos prim&oacuterdios da populariza&ccedil&atildeo da internet, com a participa&ccedil&atildeo de grupos entusiastas de &oacutevnis e te&oacutericos da conspira&ccedil&atildeo.

At&eacute que no in&iacutecio dos anos 2000 um novo chupa-cabra apareceu, com algumas diferen&ccedilas em rela&ccedil&atildeo ao original. Desta vez era descrito menos como um alien e mais como um animal parecido com um cachorro, andando em quatro patas, mas sem pelos.

E al&eacutem dos relatos de apari&ccedil&atildeo, algu&eacutem tamb&eacutem encontrou um corpo de uma dessas criaturas.

Ao ouvir a hist&oacuteria, Radford percebeu uma oportunidade de ouro: realizar uma investiga&ccedil&atildeo sem precedentes sobre algo cuja fama j&aacute se equiparava &agrave de outros monstros lend&aacuterios, como o p&eacute-grande ou o monstro do Lago Ness.

&quotQuando voc&ecirc tem um corpo, muda tudo&quot, explica. &quotVoc&ecirc pode colher amostras de DNA e de ossos, estudar a morfologia&quot, diz.

&quotNo come&ccedilo estava logicamente c&eacutetico em rela&ccedil&atildeo &agrave exist&ecircncia da criatura&quot, comenta. &quotMas ao mesmo tempo tinha consci&ecircncia de que &eacute poss&iacutevel encontrar novos animais. N&atildeo queria simplesmente menosprezar ou descartar a possibilidade. Se o chupa-cabra &eacute real, queria encontr&aacute-lo.&quot

Exames de DNA

O ponto de partida &oacutebvio eram os corpos dos supostos chupa-cabras. Um total de uma d&uacutezia de corpos foram encontrados, principalmente no Texas e em outros Estados do sudoeste dos EUA.

Eram realmente horr&iacuteveis: sem pelos, magros e com a pele com apar&ecircncia queimada. Mas exames de DNA revelaram uma realidade muito mais mundana: os corpos eram invariavelmente de coiotes, cachorros ou guaxinins, com exce&ccedil&atildeo de um, que na verdade tratava-se de um peixe.

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Mas como esses animais foram confundidos com monstros extraterrestres? Segundo Radford, a raz&atildeo era a perda do pelo por causa de sarna sarc&oacuteptica, provocada por &aacutecaros, uma doen&ccedila relativamente comum e capaz de deixar os animais com o aspecto monstruoso no qual se encontravam.

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Benjamin Radford (&agrave dir.) passou 5 anos pesquisando sobre o chupa-cabra

Foto: Benjamin Radford

&quotOs cachorros sarnentos s&atildeo quase carecas, com a pele muito grossa e num tom vermelho ou preto escuro&quot, observa Alison Diesel, especialista em doen&ccedilas de pele em animais na Universidade do Texas.

Se a esse aspecto s&atildeo acrescidas feridas provocadas pela coceira, est&aacute formado o chupa-cabra.

E as v&iacutetimas?

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Cachorros sarnentos perdem o pelo e apresentam manchas e escama&ccedil&otildees na pele

Foto: Wikimedia Commons

Mas isso era s&oacute metade da hist&oacuteria – ainda faltava resolver o mist&eacuterio dos animais v&iacutetimas dos chupa-cabras.

E a resposta, mais uma vez, foi surpreendentemente simples. Os animais encontrados eram provavelmente v&iacutetimas de predadores comuns, como c&atildees ou coiotes. N&atildeo &eacute incomum um cachorro selvagem morder um animal no pesco&ccedilo e depois deix&aacute-lo.

Muitas vezes, o bicho morre com hemorragias internas, sem outras marcas al&eacutem da mordida.

As marcas no pesco&ccedilo costumam ser relacionadas com vampiros, gra&ccedilas &agrave lenda do Dr&aacutecula, mas os animais que se alimentam efetivamente do sangue de outros n&atildeo agem assim, como observa o pesquisador Bill Schutt, do Museu de Hist&oacuteria Natural de Nova York.

&quotAs esp&eacutecies que sugam o sangue o procuram perto da superf&iacutecie da pele, o que n&atildeo &eacute o caso da veia jugular, por exemplo&quot, observa Schutt.

Assim, se compararmos as caracter&iacutesticas de animais vampiros, como os morcegos, e dos chupa-cabras, h&aacute poucas semelhan&ccedilas.

Os vampiros, segundo Schutt, s&atildeo pequenos e furtivos, com dentes especializados e um sistema digestivo que lhes permite extrair nutrientes do sangue.

Uma criatura do tamanho de um cachorro &quotmorreria de fome rapidamente se alimentando de sangue&quot, segundo ele, por causa da falta de nutrientes essenciais como a gordura.

Al&eacutem da presen&ccedila desses sinais de mordidas, Radford acredita que os rancheiros que encontraram os corpos dos animais atacados podiam atribuir a morte deles a um vampiro depois de examin&aacute-los e cort&aacute-los – e ver que o sangue n&atildeo jorrava.

&quotQuando um animal morre, o cora&ccedil&atildeo para de bater e n&atildeo h&aacute mais press&atildeo sangu&iacutenea&quot, explica. &quotO sangue se acumula na parte mais baixa do corpo e ent&atildeo coagula e se espessa. Isso se conhece como lividez, e d&aacute a ilus&atildeo de que o sangue foi retirado do corpo.&quot

Culpa do antiamericanismo

Mas se toda a mitologia ao redor dos chupa-cabras cai rapidamente por terra diante da investiga&ccedil&atildeo cient&iacutefica, por que a lenda permanece viva at&eacute hoje?

Pode parecer estranho, mas Radford aponta para o forte sentimento antiamericano em toda a Am&eacuterica Latina como parte dessa explica&ccedil&atildeo. Isso &eacute particularmente forte em Porto Rico, protetorado dos EUA.

&quotFalei com v&aacuterios portorriquenhos, que sentiam que os Estados Unidos os havia explorado, enganado e ignorado, economicamente e de outras formas&quot, diz.

Muitos portorriquenhos acreditam que os chupa-cabras s&atildeo outra indica&ccedil&atildeo da explora&ccedil&atildeo americana: seriam o resultado de experi&ecircncias cient&iacuteficas ultrassecretas promovidas pelos Estados Unidos na floresta de El Yunque, n&atildeo muito longe da cidade onde Madelyne Tolentino fez o primeiro relato sobre a criatura.

Outro fator &eacute a internet. &quotEu classifico o chupa-cabra como o primeiro monstro da internet&quot, diz Radford. &quotSe o primeiro testemunho tivesse ocorrido em 1985, algumas pessoas poderiam ouvir falar sobre ele, mas a hist&oacuteria n&atildeo teria viralizado pelo mundo todo.&quot

Radford observa que o mito mudou rapidamente.

&quotO chupa-cabra original tinha espinhos nas costas e olhos grandes. Mas ao longo dos anos o conceito da criatura foi se expandindo, at&eacute o ponto de hoje qualquer cachorro sarnento ser chamado de chupa-cabra&quot, diz.

&quotHoje as pessoas v&atildeo ao Google e procuram &39animal misterioso que ataca as coisas&39. E o mito se autoperpetua.&quot

E o que explica o primeiro avistamento, em 1995? Foi inventado?

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Radford procurou evid&ecircncias nas regi&otildees em que o chupa-cabra teria supostamente atacado

Foto: Benjamin Radford

A resposta de Radford &eacute igualmente inesperada. Ele observa que a descri&ccedil&atildeo feita por Madelyne Tolentino era semelhante &agrave do alien do filme&nbspA Experi&ecircncia&nbsp(&nbspSpecies&nbsp, no original em ingl&ecircs), que havia sido rec&eacutem-lan&ccedilado em Porto Rico – ela tinha assistido.

A trama do filme envolvia experi&ecircncias cient&iacuteficas ultrassecretas dos Estados Unidos e foi parcialmente filmada em Porto Rico.

&quotEst&aacute tudo ali. Ela v&ecirc o filme, depois v&ecirc algo que confunde com um monstro&quot, diz Radford.

Ele afirma, por&eacutem, n&atildeo acreditar que os relatos sobre o chupa-cabra eram mentira, mas simplesmente o fruto de imagina&ccedil&otildees extremamente f&eacuterteis.

&quotDo meu ponto de vista, n&atildeo h&aacute absolutamente nenhuma raz&atildeo para acreditar que algo fora do comum esteja envolvido nos ataques ao gado&quot, conclui Radford.

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Filme A Experi&ecircncia teria inspirado vis&atildeo do chupa-cabra, segundo Radford

Foto: Divulga&ccedil&atildeo

A hist&oacuteria toda n&atildeo passa de uma grande confus&atildeo envolvendo confus&atildeo cient&iacutefica, identifica&ccedil&atildeo errada de animais, exagero da m&iacutedia, ansiedade cultural e histeria coletiva. Tudo isso como resultado da impress&atildeo que um filme de fic&ccedil&atildeo cient&iacutefica deixou sobre uma mulher em Porto Rico.

Mas as revela&ccedil&otildees de Radford mostram ainda que, mesmo que a an&aacutelise rigorosa, todas as pesquisas e toda investiga&ccedil&atildeo cient&iacutefica demonstrem que o chupa-cabra n&atildeo passa de um mito, as pessoas gostam de hist&oacuterias fant&aacutesticas e continuar&atildeo a cont&aacute-las, por mais estranhas ou inveross&iacutemeis que pare&ccedilam.

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Parmenas Alt
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