segunda-feira, 13/05/2024
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Após WikiLeaks, ONU evita críticas diretas aos EUA e diz ser “inviolável”

Após o vazamento de dados secretos dos EUA, que indicam que Washington ordenou que seus diplomatas espionassem a ONU, incluindo o secretário-geral Ban Ki-moon, a organização reagiu dizendo que é “inviolável” e “transparente”, mas não criticou diretamente o governo americano.

Entre os 251.288 documentos enviados por 274 embaixadas americanas estão ordens do governo americano para que seus agentes obtivessem dados confidencias das Nações Unidas.

De acordo com o jornal espanhol “El País” os EUA queriam conhecer a rotina dos funcionários da ONU, seus cartões de crédito, emails e telefones.

Em resposta, ainda na noite de domingo (28), a organização disse que confia que os Estados membros respeitem as imunidades garantidas à organização.

“A ONU não se encontra em posição de comentar sobre a autenticidade do documento que solicita informações sobre seus funcionários e suas atividades”, disse um diplomata ligado à entidade.

Nesta segunda-feira, em comunicado divulgado pelo “El País”, a organização evitou criticar diretamente os EUA e buscando minimizar os vazamentos, afirmou que é transparente e já publica boa parte dos dados sobre suas operações.

“A ONU é por natureza uma organização transparente que torna pública grande parte das informações sobre suas atividades e membros. Funcionários da ONU se reúnem regularmente com representantes dos Estados membros para informá-los de suas atividades”, disse Farhan Haq, porta-voz da entidade.

ESPIONAGEM DA ONU

Os documentos revelados pelo WikiLeaks ontem (28) indicam que o Departamento de Estado americano pediu no ano passado aos funcionários de 38 embaixadas e missões diplomáticas uma relação detalhada de dados pessoais e de outra natureza sobre as Nações Unidas, inclusive sobre o secretário-geral, Ban Ki-moon, e especialmente sobre os funcionários e representantes ligados ao Sudão, Afeganistão, Somália, Irã e Coreia do Norte, segundo o jornal “El País”.

A equipe diplomática e consular credenciada na ONU e nos países afetados pelas instruções foram encarregados de realizar a “espionagem branda”, segundo comunicados classificados como secretos, afirma o “El País”. Os despachos pedem “inteligência humana”, dados conseguidos em contatos pessoais ou em relações informais.

FOLHA TEVE ACESSO A TELEGRAMAS

Entre os dados vazados pelo WikiLeaks está um documento que aponta que para os EUA o Brasil disfarça a prisão de terroristas, informa reportagem de Fernando Rodrigues, publicada na edição desta segunda-feira da Folha e disponível na íntegra para assinantes do jornal e do UOL.

O Relato foi feito em 2008 pelo então embaixador em Brasília, Clifford Sobel, e consta do lote de 1.947 telegramas da diplomacia americana na última década que mencionam o Brasil.

A Folha teve acesso exclusivo a seis telegramas. Tratam de ações de ativistas de origem árabe no país, mas não listam suspeitos de terrorismo detidos no Brasil.

Em dois trechos dos telegramas aos quais a Folha teve acesso há menções críticas à então ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. O assunto é a inexistência de legislação no Brasil para tipificar atos terroristas –algo pelo qual os EUA fazem forte lobby em vários países.

Dilma é apresentada como a responsável por ter impedido o envio de uma proposta de lei antiterror ao Congresso.

Leia a reportagem completa na Folha desta segunda-feira, que já está nas bancas.

VAZAMENTO

Cerca de 250 mil documentos diplomáticos confidenciais do Departamento de Estado dos EUA vieram à tona neste domingo, divulgados pelo site WikiLeaks. Os chamados “cables” revelam detalhes secretos –alguns bastante curiosos– da política externa americana entre dezembro de 1966 e fevereiro deste ano, em um caso que começa a ficar conhecido como “Cablegate”.

São 251.288 documentos enviados por 274 embaixadas. Destes, 145.451 tratam de política externa, 122.896, de assuntos internos dos governos, 55.211, de direitos humanos, 49.044, de condições econômicas, 28.801, de terrorismo e 6.532, do Conselho de Segurança da ONU.

A maioria dos documentos (15.365) fala sobre o Iraque. Os telegramas foram divulgados por meio de um grupo de publicações internacionais: “The New York Times” (EUA), “Guardian” (Reino Unido), “El País” (Espanha), “Le Monde” (França) e “Der Spiegel” (Alemanha).

O WikiLeaks divulga documentos secretos há anos, mas ganhou destaque internacional este ano, com três vazamentos. No primeiro, publicou um vídeo confidencial, feito por um helicóptero americano, que parece mostrar um ataque contra dois funcionários da agência de notícias Reuters e outros civis. O segundo tornou públicos 77 mil arquivos de inteligência dos EUA sobre a guerra do Afeganistão. O terceiro divulgou mais 400 mil arquivos expondo ataques, detenções e interrogatórios no Iraque.

O Pentágono suspeita que quem está por trás dos vazamentos é o analista de inteligência Bradley Manning, 22.

EUA CONDENAM

Em comunicado, o Departamento de Defesa dos EUA condenou “a revelação imprudente de informações obtidas de modo ilegal”.

Segundo seu porta-voz, Bryan Whitman, o departamento tomará medidas para evitar que isso ocorra novamente, como impedir a transferência de dados armazenados nos computadores para CD-ROMs ou memórias USB.

A Casa Branca também condenou a divulgação, alegando que isso pode compromete as relações com governos e líderes estrangeiros, e poderia “ter profundo impacto não só nos interesses internacionais dos EUA, mas no de nossos aliados e amigos ao redor do mundo”.

“Para ser claro, tais vazamentos põem em risco nossos diplomatas, profissionais de inteligência, e pessoas ao redor do mundo que vêm aos EUA para ajudar a promover a democracia e o governo aberto”, disse o porta-voz da Casa Branca, Robert Gibbs, em comunicado por escrito.

“Ao divulgar documentos confidenciais e roubados, o WikiLeaks põe em risco não só a causa dos direitos humanos, mas também a vida e o trabalho desses indivíduos”, afirmou.

“Condenamos ao máximo a divulgação não autorizada dos documentos confidenciais e informações de segurança nacional.”

VEJA AS PRINCIPAIS REVELAÇÕES

Veja abaixo algumas das principais revelações presentes nos cerca de 250 mil documentos divulgados pelo WikiLeaks.

O Politburo, segundo organismo mais importante do governo da China, comandou a invasão dos sistemas de computador do Google no país, como parte de uma campanha de sabotagem a computadores, realizada por funcionários do governo, especialistas particulares e criminosos da internet contratados pelo governo chinês. Eles também invadiram computadores do governo americano e de aliados ocidentais, do Dalai Lama e de empresas americanas desde 2002.
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O rei Abdullah, da Arábia Saudita, repetidamente pediu aos EUA para atacar o Irã e destruir seu programa nuclear, além de, segundo registros, ter aconselhado Washington a “cortar a cabeça da cobra” enquanto ainda havia tempo.
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Doadores sauditas continuam sendo os principais financiadores de grupos militantes sunitas, como a Al Qaeda; e o pequeno Estado do Qatar, generoso anfitrião do Exército americano no golfo Pérsico por anos, era “o pior da região” em esforços de combate ao terrorismo, segundo um telegrama ao Departamento de Estado em dezembro do ano passado.
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Representantes dos EUA e da Coreia do Sul discutiram a possibilidade de uma Coreia unificada se os problemas econômicos da Coreia do Norte e a transição político no país levassem o Estado a implodir. Os sul-coreanos chegaram a considerar incentivos econômicos à China para “ajudar a aliviar” as preocupações de Pequim sobre o convívio com uma Coreia reunificada em “aliança benigna” com Washington, segundo o embaixador americano em Seul.
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Desde 2007, os EUA montaram um esforço secreto e, até agora, mal sucedido para remover urânio altamente enriquecido do reator de pesquisa do Paquistão, com medo de que pudesse ser desviado para uso em um reator nuclear ilícito.
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O Irã obteve mísseis sofisticados da Coreia do Norte, capazes de atingir o leste europeu, e os EUA estavam preocupados de que o Irã estaria usando esses foguetes como “peças de montagem” para construir mísseis de mais longo alcance. Os mísseis avançados são muito mais poderosos do que qualquer equipamento que os EUA publicamente reconheceram existir no arsenal iraniano.
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Quando o vice-presidente afegão, Ahmed Zia Massou, visitou os Emirados Árabes Unidos no ano passado, autoridades locais trabalhando para a Agência de Controle às Drogas descobriram que ele carregava US$ 52 milhões em dinheiro vivo. Segundo o telegrama da embaixada americana em Cabul, ele pode manter o dinheiro sem revelar a origem ou destino do montante.
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Diplomatas americanos barganharam com outros países para ajudar a esvaziar a prisão da baía de Guantánamo, realocando detentos. Por exemplo, foi pedido que a Eslovénia aceitasse um prisioneiro se quisesse agendar um encontro com o presidente Barack Obama. A República de Kiribati recebeu oferta de incentivos valendo milhões de dólares para aceitar detentos muçulmanos chineses. Em outro caso, aceitar mais presos foi descrito como “uma forma de baixo custo para a Bélgica alcançar proeminência na Europa”.
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Os EUA não conseguiram evitar que a Síria fornecesse armas ao Hizbollah no Líbano, que acumulou um grande arsenal desde a guerra de 2006 com Israel. Uma semana após o presidente sírio, Bashar al Assad, prometer a um alto representante americano que não mandaria “novas” armas ao Hizbollah, os EUA reclamaram que tinham informações de que a Síria estava dando ao grupo armas cada vez mais sofisticadas.

F.Com

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Parmenas Alt
Parmenas Alt
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