terça-feira, 28/05/2024
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Chávez perde referendo e sofre primeira derrota eleitoral em nove anos

Pouco mais de 50% dos venezuelanos votaram contra a reforma constitucional socialista proposta pelo presidente Hugo Chávez, que sofreu sua primeira derrota eleitoral em nove anos.

O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) anunciou a vitória do “Não” contra a reforma à 1h20 deste segunda-feira (5h20 GMT), com 97% dos votos apurados, encerrando um longo silêncio de nove horas desde o fechamento das urnas.

Pouco depois, em um discurso, Chávez reconheceu a derrota de sua proposta para reformar 69 dos 350 artigos da Constituição de 1999. A mudança estabeleceria o caminho legal para instaurar o socialismo na Venezuela, e permitiria a reeleição presidencial ilimitada, aumentando o mandato para sete anos e ampliando os poderes do cargo.

“Por agora, não conseguimos” disse Chávez, repetindo uma frase sua que ficou célebre na época da fracassada tentativa de golpe de Estado liderada pelo líder venezuelano em 1992 contra o então presidente Carlos Andrés Pérez.

“Prefiro que os números tenham chegado ao nível de irreversibilidade”, declarou, justificando a demora da autoridade eleitoral em revelar os resultados parciais.

“Não fiquem tristes nem aflitos”, pediu Chávez a seus seguidores, felicitando seus adversários pela vitória. O presidente advertiu, no entanto, que “nós estamos preparados para uma longa batalha”.

A derrota da reforma faz com que Chávez seja obrigado a pensar em um sucessor para as eleições de 2012 e em deixar a presidência em 2013, após 14 anos à frente do governo da Venezuela, país rico em petróleo.

A reforma foi apresentada aos eleitores em dois blocos: o A, composto pelos artigos propostos por Chávez (como a reeleição ilimitada), e o B, com as mudanças encaminhadas pela Assembléia Nacional, que acabava com o direito à informação e ao julgamento justo em caso de estado de emergência.

O primeiro bloco foi rejeitado por 50,7%¨dos eleitores, e o segundo por 51,05%. A taxa de abstenção foi de 44,11%.

Quando a presidente do Conselho Nacional Eleitoral, Tibisay Lucena, anunciou o resultado, um clamor se elevou em Caracas e milhares de pessoas saíram às ruas para comemorar com fogos de artifício.

À frente da campanha do “Não”, os estudantes comandavam as mais enfáticas manifestações de alegria, cantando com as mãos dadas. Pouco depois, um grupo se reuniu na praça Altamira, tradicional ponto de encontro da zona Leste de Caracas.

Momentos antes do anúncio do CNE, muita tensão entre os dirigentes da oposição, que exigiam a divulgação imediata dos resultados e denunciavam sua exclusão da contagem final.

A campanha pelo “Não” foi liderada pelo movimento estudantil, que surgiu forte em maio deste ano por ocasião da não renovação da licença do canal de televisão RCTV, de oposição a Chávez.

Os estudantes receberam o apoio do ex-ministro da Defesa da Venezuela, o emblemático general Raúl Baduel, que comandou o movimento cívico militar responsável pelo fracasso do golpe de 2002 e pela volta de Chávez ao poder.

Baduel lançou um alerta ao país diante da possibilidade de que Chávez tente impor por outros meios as mudanças rejeitadas no referendo.

“Devemos estar atentos diante da possibilidade de que ele imponha estas mudanças por uma via diferente da Assembléia Constituinte, por exemplo, através de leis que o permitam fazer isso”, declarou Baduel após o anúncio da derrota de Chávez.

O “Não” também foi apoiado por uma dissidência chavista composta pelo partido social-democrata Podemos, vários intelectuais e até a ex-mulher do presidente, María Isabel Rodríguez, que participou da constituinte em 1999.

A enfraquecida oposição se uniu pela primeira vez desde 2004, e até os abstencionistas mais convictos convocaram a população a votar.

A historiadora Margarita López Maya, uma das primeiras intelectuais próximas ao chavismo a criticar a reforma, disse à AFP que é “uma derrota pessoal do presidente, porque ele transformou o referendo em um plebiscito e disse que elaborou a reforma com seus próprios punho e letra”.

Ela explicou ainda que este é o cenário mais favorável para a Venezuela, porque “Chávez não irá sucumbir”. “Chávez sobrevive, mas isso o obriga a repensar as datas deste projeto e de que modo irá persuadir a população”, concluiu.

O analista Luis Vicente León, do instituto de pesquisa Datanálisis, disse à AFP que Chávez “superestimou sua potência, a capacidade que tinha de endossar sua própria força através de uma proposta de reforma constitucional que as pessoas rejeitaram desde o princípio”.

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Parmenas Alt
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