quarta-feira, 15/05/2024
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Discussões estéreis não levam a nada

As eleições se aproximam, e com elas a velha estratégia política de comparar um governo com outro. Quem fez mais e quem fez menos. Discussão estéril. São momentos diferentes.
O governo FHC começou antes mesmo das eleições que o alçaram, então Ministro da Fazenda no Governo Itamar Franco, ao posto de Presidente da República. Mais objetivamente, quando a equipe econômica, por ele liderada, lançou as bases do Plano Real.
Em 1993, a inflação no país atingiu a astronômica cifra de 2.477%. Na época, apenas quatro países no mundo conviviam com inflação superior a 1.000% a.a., entre eles o Brasil. Eram eles: Rússia, Ucrânia, Zaire e Brasil, mas nenhum desses países tinha convivido tanto tempo com inflações tão altas.
A busca pela estabilização da economia começou com o Plano Cruzado, lançado no Governo Sarney em março de 1986, que inaugurou a nefasta rotina dos congelamentos dos preços e dos salários. Ainda no Governo Sarney, veio o Cruzado II, com o ministro Dílson Funaro, o plano Bresser, com o ministro Luiz Carlos Bresser Pereira, e o plano Verão com o ministro Mailson da Nóbrega. O resultado de tais planos foi que partimos de uma inflação de 242,23% em 1985, para 79,66% em 1986, 363% em 1987 e quando Sarney entregou o Governo para Collor, em 1989, a inflação já atingia 1.972%. No Governo Collor não foi diferente: em menos de dois anos foram lançados o Collor 1 e Collor 2, com resultados também decepcionantes.
Depois de ter sofrido com o fracasso de tantos planos, o Brasil era desacreditado, tanto interna como externamente. E para complicar, no governo Sarney, o país foi obrigado, por insolvência, a decretar uma moratória internacional o que o levou a romper com o FMI. Isso o isolou da banca internacional. Ficou totalmente sem crédito.
O país estava vulnerável. Qualquer vento lá fora se transformava em furacão quando chegava por aqui. Foi o que aconteceu. Ainda em 1995, no início do Governo FHC, a crise do México mostrou a sensibilidade exposta da economia brasileira. Aquela, bem como as crises que vieram logo depois, da Ásia (1998) e da Rússia (1999), objetivamente nada tinha nada a ver com a economia brasileira, mas por ter se dado em economias emergentes, como a nossa, gerou desconfianças e, fato contínuo, uma rápida fuga dos capitais estrangeiros aplicados no país, só contidos por sucessivas altas dos juros. O Brasil conseguiu sobreviver a esses testes, ainda que com graves seqüelas, como o alto endividamento interno e externo, que somente ao longo do tempo foi possível ser absorvido pelo sistema e hoje já não é tão significativo. Pagamos um preço muito alto, mas conseguimos colocar o país nos trilhos.
O Governo Lula, manteve os principais postulados da economia, embora tenha dado especial realce às políticas de distribuição de renda, o que veio a fortalecer o mercado interno, que serviu de escudo para ajudar no combate à crise econômica que veio a assolar o mundo em 2008.
A crise atual, embora assustadora pela sua dimensão, pouco afetou o Brasil. Chegou mesmo como uma “marolinha”, conforme anunciou o Presidente Lula, e o país estava preparado para recebê-la. Depois de quinze anos de racionalidade econômica, a economia estava sólida, tinha um mercado interno forte e, além do mais, tinha conquistado a confiança interna e externa. O Governo agiu rápido. Os instrumentos de política econômica aplicados foram certeiros e se mostraram eficazes. Fossem outros os tempos, o Brasil provavelmente iria para o ralo.
Finalmente, parece que o Brasil aprendeu, a duras penas, como administrar a economia. Os governos passam, mas o país fica. Não pode haver ruptura a cada sucessão. Deve haver continuidade. E, legado principal, não deixar que os excessos verborrágicos, ditos em palanques, durante as campanhas eleitorais, afetem a racionalidade dos governantes. Essa história de “nunca antes nesse país” é pura bazófia. Discussão estéril que não leva a nada.

Waldir Serafim é economista e professor universitário

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Parmenas Alt
Parmenas Alt
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