domingo, 28/04/2024
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Diz Maggi que fez a melhor opção para MT

Governador reeleito de Mato Grosso, Blairo Maggi não titubeou em declarar apoio à reeleição do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, em detrimento ao candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, com quem teoricamente teria maior afinidade com o setor do agronegócio.

Maggi aponta uma série de ponderações no seu posicionamento, em que pese a política cambial aplicada pelo governo Lula, que tem prejudicado o setor do agronegócio. Porém o chefe do Executivo afirma que houve avanços para a área na gestão do petista e confia nos compromissos do presidente para um eventual segundo mandato.

O governador disse ainda que no governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, do PSDB, há oito anos, houve a quebra da agricultura brasileira – “de ir para a lona e ter que fazer a securitização”.

Nesta entrevista ao Diário, Maggi explica os pormenores que o levaram a apoiar o candidato do PT neste segundo turno.

Diário de Cuiabá – Por que Lula?

Blairo Maggi – Veja bem, eu vinha fazendo uma análise desta questão nacional já antes do final do primeiro turno, porque no primeiro turno ficamos neutros no processo. Depois, avaliando a posição, inclusive, da maioria das lideranças do setor do agronegócio, tanto aqui do Mato Grosso como fora do Estado, todos eles se alinhando muito na direção do Geraldo Alckmin, então eu não vi nenhuma liderança de expressão colocar que estaria junto com o presidente Lula no segundo turno. Bom, esse ponto me levou a uma reflexão: se todo mundo vai para o mesmo lado e esse lado não ganha a eleição, como nós do agronegócio vamos nos rearticular para dar seqüência nas questões agrícolas que nós temos hoje? Tanto na Presidência quanto nos ministérios, são vários os mecanismos de comercialização que estão sendo desenvolvidos. Alguns, por sinal, já estão funcionando com recursos alocados, outros não, mas que na atual crise da agricultura por que nós passamos, eles são muito importantes para o Estado de Mato Grosso. Esses mecanismos vêm contribuir para que o setor se mantenha vivo até que haja uma mudança mais radical dessa forma de conduzir o setor agrícola. Fora de governo, esse foi o ponto que me fez tomar essa decisão, até pela amizade que eu tenho com o presidente, e os canais que nós abrimos durante este período me fizeram tomar essa decisão contrária à maioria do setor de onde eu vim, que é o agronegócio. Precisamos ter uma visão mais pragmática deste assunto. Eu não me sinto bem fazendo um papel simplesmente de estar junto porque está todo mundo, quando acho que tenho que ir para outro caminho, então eu sei dos riscos políticos que estou enfrentando, sei das críticas que estou enfrentando, mas estou fazendo isso absolutamente consciente, em defesa dos segmentos produtivos do Estado de Mato Grosso e a segunda parte que é a defesa do Estado de Mago Grosso.

Diário – O senhor tem convicção de que essa sua decisão é melhor para Mato Grosso?

Maggi – Eu tenho convicção de que a minha decisão é melhor para Mato Grosso, sim, e vou explicar por que: qualquer um que um que for lá neste momento, nós vamos gastar no mínimo um ano, um ano e meio para o governo começar a entender e ter possibilidade de tomar decisões que precisam ser tomadas para Mato Grosso. Eu não vejo, sinceramente, que um governo que assuma no dia 1º de janeiro e no dia 1º de fevereiro tenha uma situação diferente. Então, esse tempo eu acho que Mato Grosso não pode perder, eu estou aqui olhando a questão da economia do Estado, então quando você olha as questões do Estado, estas são as mais importantes. Eu demorei mais de dois anos para abrir alguns canais com o governo e vamos chamar as lideranças locais, são raras as exceções dos que não concordam. O governo federal tem muitos órgãos no Estado e as indicações políticas que foram feitas para estes órgãos, elas não estão em consonância com as políticas estaduais. Criam muitos embates nesta área, por exemplo, o Incra, a Funasa, a Secretaria de Agricultura com a Delegacia, outros órgãos, tínhamos o Ibama, então tudo isso cria um ambiente muito instável e nós precisamos estar alinhando para que essas indicações futuras que vão ser feitas nestes órgãos sejam em consonância com o governo do Estado. Não quero dizer que tenha que ser o governador ou alguém deste lado que tenha que indicar, mas as pessoas que forem para esses postos sejam pessoas dispostas a aceitar a política do Estado, que é uma política de desenvolvimento, não é uma política de ficar amarrando as coisas, escondendo, de querer criar confusão e querer fazer politicagem com os órgãos federais que têm aqui, pelo contrário, nós precisamos usar os órgãos federais que têm no Estado para ajudar a alavancar o desenvolvimento do Estado de Mato Grosso.

Diário – A Superintendência da Caixa Econômica Federal em Mato Grosso foi um desses exemplos do que deu certo?

Maggi – Deu certo, foi indicado na época pelo deputado Pedro Henry, o gerente Edy Veggi foi muito solícito com o governo. Tanto é que nós avançamos em vários programas residenciais, principalmente em Cuiabá, Várzea Grande e Rondonópolis, que até então poderiam receber este tipo de investimento. Isso demonstra muito claramente como o Imeq e o Inmetro, que não têm envolvimento político, são órgãos bem técnicos e que todo mundo respeita. São exemplos que deveriam ser seguidos, inclusive eu disse isso ao presidente e à ministra Dilma Roussef, que o Inmetro é um modelo que o governo federal deveria usar para fazer as suas ações no Estado. Por exmeplo, o Incra: não precisamos do Incra, nós temos o Intermat, é só a gente dar uma ajeitada melhor, crescer um pouco, dar as funções que o Incra faz. A União deve fiscalizar e dar para os estados fazerem.

Diário – Quando o senhor acertou o apoio a Lula, acertou todos os detalhes também?

Maggi – Foram colocados todos esses detalhes na mesa e outros tantos que já vinham sendo negociados há muito tempo com o governo federal, como a questão da energia elétrica para o Vale do Araguaia. Já se falou na campanha, mas até agora não está definida e vai ser apresentada em Mato Grosso no dia 19, quando o ministro das Minas e Energia, Silas Rondeau, visita o Estado e vai apresentar à sociedade mato-grossense a energização de todo o Vale do Araguaia, o “Vale dos Esquecidos”, agora interligado ao sistema nacional. Temos também outro acordo com o governo federal que vai dar seqüência às rodovias nas regiões Norte e do Araguaia, então, são benefícios que se o governador Blairo Maggi não apoiar o Lula, demorarão muito para vir para o estado. Devem vir, mas pode demorar mais e eu não quero esperar mais, quando consigo pegar um acordo com o governo federal para a defesa do Estado, isso é muito importante e tantas outras coisas que já foram resolvidas.

Diário – Governador, e as suas divergências pontuais com a deputada Vera e com a senadora Serys, como ficam nesta situação? Zera tudo?

Maggi – Não. A Vera não é mais deputada, perdeu o mandato, e a Serys saiu derrotada nas eleições, é uma liderança do partido, mas eu também não quero tomar o partido, eu não vou para o partido, eu vou ajudar o presidente ganhar as eleições e quero que ele tenha um olhar diferente para o Estado de Mato Grosso. Muitas vezes me coloquei contrário às posições desse pessoal, o que não é o caso do deputado Abicalil, por exemplo, que nunca atravessou na frente de qualquer coisa que viesse em benefício do Estado de Mato Grosso, diferentemente do que acontece com os outros setores.

Diário – O senhor já avaliou e o que vai fazer para minimizar os riscos políticos com a decisão de apoiar o Lula?

Maggi – As pessoas que militam politicamente comigo me acompanham na decisão, com algumas exceções talvez. Eu não vejo dificuldade de levar isso adiante, de mudar de partido, nós vamos mudar, vamos discutir para onde vamos, vamos buscar uma alternativa que seja viável politicamente e eu acho que quem tem a perder nesta questão toda é o PPS, que perde o maior Estado que ele tem hoje, e vai perder mais porque eu tenho alguns amigos de fora que também saem do partido. Esta questão política se resolve depois, eu não vejo dificuldade nenhuma.

Diário – É irreversível a sua saída do PPS?

Maggi – É irreversível, chega, eu não quero ter mais um presidente ditador, um presidente que queira dar ordem de cima para baixo, que não escuta o partido, que não respeita o partido, que não participa do partido, que é ausente do partido, não quero mais partido que tenha dono, eu quero partido que discuta democraticamente as coisas que se queiram fazer, que respeite a opinião dos outros. Até porque não tem resolução, não tem decisão de partido, ele [Freire] não veio aqui, não discutiu, não discutiu conosco qualquer decisão de apoio a Geraldo Alckmin no segundo turno. Quer dizer: foi uma decisão monocrática do presidente ou de uma meia dúzia de pessoas que vivem grudadas no partido.

Diário – A sua relação com o PFL muda alguma coisa com a decisão de apoiar o Lula?

Maggi – Não. Veja bem, o setor político de Mato Grosso entende muito bem o que nós estamos fazendo. Nós fizemos uma reunião com todos os partidos da nossa base aliada de 2006 e todos eles compreendem muito bem a posição do governador, inclusive avalizam a posição do governador. O senador Jonas Pinheiro, o senador (eleito) Jaime, os deputados do PFL acompanham a decisão do PSDB, do Alckmin, os demais acompanham a posição do governador. Passadas as eleições do dia 29, no dia 30 nós estaremos sentados novamente para discutir e compor politicamente com quem ganhar essa eleição, para o bem e o desenvolvimento de Mato Grosso. Isso é muito claro. Os políticos entendem bem esse negócio, isso é uma estratégia política e muitas vezes quem tem o fígado maior do que a razão acaba não entendendo e fazendo críticas ácidas, críticas que não cabem neste momento. É até meio bíblico isso, muitas vezes o pastor coloca em risco a sua vida para salvar o seu rebanho de ovelhas. É o que eu estou fazendo aqui, eu sei dos riscos que estou correndo e, para mim pessoalmente, era mais tranqüilo ficar em cima do muro, ficar quieto, ganhasse quem ganhasse, ficaria de bem com todo mundo. Veja bem: o Lula ganhando a eleição, todas as lideranças que estão contra mim e que agora não me acompanham serão as primeiras que virão cobrar de mim posição do governo federal para resolver os problemas de Mato Grosso, então eu sei da carga que estou colocando no meu ombro, estou colocando isso de forma consciente e sabendo do risco que estou correndo. Eu disse isso ao presidente e à ministra da Casa Civil de que eu estava indo na posição contrária da maioria das pessoas ao meu redor. Estou fazendo isso para defender esse setor no futuro, então preciso muito do apoio do governo federal, porque senão eu fico sem grupo aqui e fico sem apoio do outro lado.

Diário – O senhor confia que serão cumpridas as promessas?

Maggi – Eu tenho que acreditar, eu preciso acreditar em alguma coisa. Primeiro porque o Alckmin não vai ganhar a eleição, deixar tudo isso sem nenhuma posição, sem nenhum acordo, como fiz em 2002, fui lá e declarei apoio ao Lula, vim embora, não fiz nenhum acordo político para Mato Grosso, os demais fizeram e eu fiquei aí a ver avios. Passaram dois anos até que conseguisse me ajustar dentro do próprio governo, então isso eu não quero mais. Eu acho que isso é uma questão até de amadurecimento político meu, durante esses quatro anos pude saber que o governante precisa ter posições firmes, sejam elas certas ou erradas, mas você tem que estar com a posição tomada.

Diário – Como será a sua participação na campanha de Lula a partir de agora?

Maggi – Aqui no Estado a coordenação é do deputado Abicalil, eu não tenho muito tempo para fazer campanha porque até na minha própria eleição eu saí muito pouco, minha atuação será mais no sentido de conversar com as lideranças e de mostrar à população, através dos meios de comunicação, que o governador está apoiando o governo Lula. Eu conheço as pesquisas em Mato Grosso e tem muita gente que está esperando a posição do governador e que acompanha uma decisão do governador, que entende que a posição do governador é melhor para o Estado, portanto, essas pessoas também querem a melhor coisa para o Estado e vêm juntas, mas aqui não se trata de uma eleição, vamos chamar assim, “de fígado”, de brigar, eu acho que estamos numa posição de dizer lá na frente: nós ajudamos a elegê-lo e agora queremos cobrar os compromissos políticos feitos lá atrás.

Diário – O senhor vai participar da campanha em programa de TV, vai acompanhar o presidente em algumas visitas?

Maggi – Devo gravar sim uma participação no programa eleitoral, se for convidado para ir em outros estados, estou à disposição para ir. Agora, sou companheiro, tenho que estar junto e tenho recebido muitos telefonemas de outros estados, do setor do agronegócio, do qual eu vim, de gente com quem tenho relacionamento, muitos se mostram surpresos, mas, depois de explicado, compreendem e acham que a minha posição é a correta, eu penso que posso ajudar o presidente Lula mais pro interior do que propriamente aqui. Um exemplo é o que eu vi (sexta-feira) em Sapezal, eu reuni as pessoas lá, conversei com elas e mostrei o porquê o meu apoio ao presidente Lula e 80% das pessoas que estavam na reunião saíram de lá convencidas de que têm que acompanhar o governador. Então, minha posição está tomada, vou estar nesta direção e quanto mais apoio político eu receber aqui mais forte eu vou ficar em Brasília depois. É uma questão de pragmatismo.

Diário – A questão de Luiz Antonio Pagot (que coordenou a campanha à reeleição do governador) integrar a coordenação da campanha nacional do presidente Lula, também facilita as negociações para Mato Grosso?

Maggi – Esta foi uma decisão nossa, falei para o presidente e para a coordenação de campanha que nós gostaríamos de ajudar em alguns setores da economia nacional com os quais o PT e a coordenação não têm conseguido conversar direito. Foram extremante beneficiados pelo governo, como, por exemplo, o setor de construção naval, com os programas, teve grandes benefícios e não tem interlocutor. Aí a gente atuou e conhece esse segmento na Amazônia, então a entrada de Pagot na coordenação tem esse objetivo de conversar com alguns setores, mas principalmente botar uma estaca de Mato Grosso dentro desse governo. Com o Lula reeleito presidente, nós teremos uma participação maior dentro deste governo, não quero dizer que com cargo ou coisa parecida, mas a nossa presença dentro do comitê significa dizer: nós estamos aqui para ajudar ganhar essa eleição, não estamos aqui só para fazer número, então nós queremos ser recompensados por isso e temos a certeza de que seremos recompensados por isso.

Diário – O senhor vai mudar de partido quando, e qual vai ser a nova sigla?

Maggi – Não tenho decisão, não tenho pressa para isso, não tenho necessidade nenhuma de fazer a mudança neste momento. Vou discutir com o meu grupo político, com os deputados, os prefeitos e os vereadores, para a gente decidir para onde vamos, ainda este ano. Eu acho importante, já que estou fora do PPS, que o pessoal do PPS me acompanhe, eu tenho certeza de que os companheiros me acompanharão.

fonte: DC

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Parmenas Alt
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