quarta-feira, 15/05/2024
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Humanização do parto: a medicina a serviço de mamães e bebês

Através das últimas gerações, aprendemos que nascer não é tão simples como parece. A gestação é um processo em que o corpo da mãe passa por várias modificações para, no final de nove meses, dar à luz outro ser humano muito mais frágil e dependente. Durante esse tempo, muita coisa pode acontecer e, mesmo que durante toda a gravidez nada de excepcional ocorra, no momento do nascimento situações delicadas podem surgir.

Dessa forma, estudamos, compreendemos e modificamos a forma de trazer crianças ao mundo, sempre visando aumentar as chances de sobrevivência das mães e seus bebês. Mas durante esse processo de aprimoramento nos modelos de parto não atentamos que nascer é algo natural.

As mulheres sempre estiveram sujeitas às complicações durante o trabalho de parto. Porém, ao admitirmos que o momento do nascimento é perigoso, passamos a acreditar que o que pode dar errado vai, invariavelmente, dar errado, e ignoramos que o processo tende a transcorrer naturalmente, sem problemas. Dessa forma, o parto passou a ser algo institucionalizado, acompanhado de perto, e a mulher e seu filho deixaram de ser o centro das atenções. Criou-se, então, uma cultura em que o médico é quem decide como o nascimento deve ocorrer.

Até certo ponto isso não é algo ruim. O acompanhamento médico durante a gestação é essencial e pode, inclusive, prevenir contra complicações na hora do bebê nascer. O problema está quando os profissionais impõem suas opiniões às parturientes, omitindo informações, de forma que elas não se sintam confortáveis para tomar as decisões sobre o momento e o modo de nascimento do seu filho.

Em um país como o Brasil, líder em cesáreas desnecessárias, a proposta do parto humanizado é uma saída para diminuir o índice de cirurgias.

 

Parto Humanizado

Nos últimos anos, o conceito de “parto humanizado” vem ganhando popularidade, mas as informações disponíveis sobre ele ainda são fragmentadas. Não que falte estudo ou opinião sobre o assunto. Falta acesso à informação por parte das famílias, instituições e principalmente das gestantes.

A humanização do parto, como alguns profissionais preferem chamar, vai além do parto em si. Trata- se de uma abordagem diferente da gestação em todos os aspectos. Consiste em informar a gestante, para que ela se prepare, tenha autonomia para tomar as decisões e veja o nascimento como um processo natural [e não como um procedimento médico] e importante para o desenvolvimento de laços afetivos e saudáveis entre a mãe e o bebê. Nessa nova abordagem, a mulher não é a única a se preparar. As pessoas que a rodeiam, sejam elas familiares, profissionais ou amigos, também devem se informar e respeitar as decisões tomadas pela gestante.

Apesar de ser associado ao parto doméstico, o conceito de parto humanizado também se estende a hospitais e maternidades. Nesses ambientes encontra-se maior resistência, já que os profissionais da saúde, muitas vezes, não estão preparados para realizar os procedimentos, ou o sistema não oferece estrutura para isso.

Janete Nakagawa, professora do curso de graduação e do Programa de Mestrado em Enfermagem da Universidade Federal de Mato Grosso [UFMT], comenta que os hospitais que atendem pelo Sistema Único de Saúde [SUS] dão prioridade ao parto normal. Segundo ela, a gestante é avaliada para ver se há a possibilidade de um bom parto. Somente quando algo fora do normal é identificado, ela é encaminhada para a cesárea. No entanto, como a própria pesquisadora pontua, a hora do parto é estressante para a parturiente, o que pode levar muitas a optarem por uma cesariana. “Com uma dor, uma contração, ela [a mãe] já fica estressada, não tem esse preparo físico, nunca ouviu falar, tudo é estranho, ela não tem alguém do lado, um acompanhante, uma pessoa de confiança”. Na abordagem da humanização, o acompanhante é fundamental para dar apoio psicológico, segurança e conforto à parturiente.

A cesariana é tida como um procedimento invasivo, com difícil recuperação e com mais chances de complicações. Porém o parto normal também tem “má fama”. Mesmo que seus benefícios sejam amplamente divulgados, o medo de sentir dor, de passar por um procedimento traumático [realidade em muitos hospitais brasileiros] ou de ter suas decisões desrespeitadas faz com que algumas mulheres optem pela cesariana, mesmo que o parto natural tenha sido sua opção no início da gravidez.

O modelo de parto proposto pelos adeptos de uma abordagem humanizada não é simplesmente um nascimento natural. Janete explica que o modelo vai desde o início da gravidez, com a preparação física e psicológica da gestante, até o momento do parto, deixando que este ocorra naturalmente. Respeitar o tempo do trabalho de parto e preparar a mulher para passar por ele são formas de evitar a medicalização excessiva.

A proposta também prevê empoderamento da parturiente, que pode decidir junto ao seu médico qual o melhor modelo de parto, onde ele será realizado, quem poderá estar presente no momento e quais as intervenções [como a analgesia] que ela quer ter. Obviamente, o conselho do profissional não pode ser ignorado, já que ele tem o objetivo de zelar pela saúde da mãe e do bebê. Todavia é preciso que a equipe esteja preparada para acatar as decisões da paciente.

Considerando que, no parto, importantes ligações afetivas entre a mãe e o bebe são reforçadas, algumas mulheres preferem ter seus filhos em casa. Os motivos são muitos, mas o desejo da mulher de ter um parto domiciliar é indispensável. A pesquisadora explica que nem sempre o parto domiciliar é possível, cabendo ao profissional de saúde avisar a gestante dos riscos. “A gente tem ainda uma tradição de fazer dentro dos hospitais pela questão da emergência. A emergência obstétrica pode acontecer mesmo em gestantes que não tenham risco nenhum. Ocorre em 5% dos casos.”, explica Janete.

A pesquisadora afirma que o ponto principal do parto humanizado é colocar a mulher no centro das decisões. “A mulher precisa se tornar mais empoderada e fortalecida para que ela possa tomar as decisões, qualquer que seja a opção dela, mas a partir de dados, de conhecimento. Ela precisa ser resguardada e respaldada com vários tipos de informação para que ela possa, depois, fazer uma decisão sobre o que ela deseja”.

Interferências desnecessárias ou mesmo a falta de estrutura hospitalar necessária podem ocasionar um parto traumático. Aqueles que defendem a humanização também apontam mudanças no sistema de saúde como parte importante do processo. Conhecer seus direitos, assim como os prós e contras de qualquer tipo de parto, é fundamental para que as mulheres possam fazer suas próprias escolhas.

Na reportagem da próxima segunda [dia 10], confira detalhes da dissertação de mestrado de Angélica Pereira Borges, orientada pela professora Janete, sobre a Humanização do Parto envolvendo 160 gestantes de Cuiabá.

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Parmenas Alt
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