terça-feira, 14/05/2024
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Mudança de estratégia

O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em Mato Grosso muda de estratégia e passa a ter como alvo as chamadas “tradings”, empresas da cadeia de sojocultura que estão em um nível acima dos produtores rurais, no topo da pirâmide agrícola, para realizar a reforma agrária.

A maioria das corporações são multinacionais, que compram, armazenam, transportam e exportam soja. Também vendem insumos e financiam o plantio dessa monocultura milionária.

No Estado, estão na mira do MST as multinacionais ADM, Bunge Alimentos e Cargill Agrícola, além da mato-grossense Amaggi, que também planta o grão de ouro, e da pesquisadora Monsanto, maior especialista em soja transgênica no mundo, que tem um laboratório em Sorriso, desde 2003. As outras têm silos na maioria das cidades onde há lavouras de soja.

A nova política para pressionar o andamento da reforma agrária deixa em segundo plano as ocupações de latifúndios improdutivos, que marcaram historicamente o movimento. As informações são de Antônio Carlos Mendes, da direção estadual do MST.

O Movimento não marca data para protestos e nem indica especificamente os possíveis alvos. “Trata-se de uma luta anti-imperialista”, resume Mendes, lembrando que esta é uma tendência, cujo pontapé inicial foi dado com a ação contra a multinacional Aracruz, promovida no Rio Grande do Sul (RS) pela Via Campesina – um braço do MST.

Ele explica que, atingindo proprietários rurais, como os sojicultores, não têm conseguido uma reforma agrária de fato, que englobaria muito mais do que apenas assentar famílias sem-terra, mas também uma mudança radical na política agrícola. Nesse aspecto, o MST avalia que o país avançou menos ainda.

O engenheiro agrônomo Antônio João Castrillon é mestre em sociologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Por ser daqui, defendeu tese sobre os assentamentos em Mato Grosso. Agora fazendo doutorado pela mesma instituição, resolveu estudar quem está do outro lado da moeda: os sojicultores.

“As tradings financiam os sojicultores, têm o domínio da situação para fazer com eles contratos cada vez mais favoráveis e, como a maioria, só não plantam a soja, ganham em toda a cadeia produtiva”, observa o pesquisador. “Nesse sentido, a nova estratégia do MST procede, porque são elas as grandes beneficiárias”.

O presidente da Associação dos Produtores de Soja do Estado de Mato Grosso (Aprosoja/MT), Rui Ottoni Prado, não vê assim. “São apenas mais um elo da cadeia produtiva. Sem elas, não teríamos como plantar”, acredita. Critica a ação da Via Campesina contra a Aracruz, a qual chama de absurda. Pede que o país não aceite isso. Mas admite que entre os plantadores e as tradings existem arestas a serem superadas. “Se o MST está pensando em atrapalhá-las por conta da reforma agrária, não vai”, opina.

Questionadas sobre o temor de algum tipo de ação do MST, através da assessoria de imprensa, a ADM e a Bunge não quiseram comentar o assunto, assim como a Amaggi. A reportagem não conseguiu contato com a Cargill. E a assessoria da Monsanto, sendo informada sobre o teor da matéria, não deu retorno.

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Parmenas Alt
Parmenas Alt
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