segunda-feira, 29/04/2024
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Nova opção para mulheres que não podem engravidar

Por Julia Trevisan, Especial para a Agência Estado.
Foi aprimorado no Japão um novo método de congelamento rápido de óvulos capaz de ajudar mais mulheres a engravidar. Por não permitir a formação cristais de gelo, a célula é muito menos danificada durante o processo e, conseqüentemente, as chances de uma gravidez aumentam. O sucesso no descongelamento foi de 94,5% e a taxa de gravidez na fertilização in vitro chegou aos 41,9%, apenas 0,6% abaixo da taxa de gravidez que utiliza óvulos frescos, ou seja, não congelados. Além disso, o método poderá evitar gravidez múltipla, comum em casos de fertilização artificial, além de afastar a mulher das questões éticas e morais que envolvem o congelamento de embriões, como o descarte e a possibilidade de doação de embriões excedentes de um tratamento de reprodução
humana.

A equipe de pesquisadores, liderada por Masashige Kuwayama, da clínica Kato Ladies, de Tóquio, congelou e descongelou 111 óvulos por meio do método de vitrificação rápida, que chamou de Cryotop e se contrapõe ao método até então largamente utilizado, o de congelamento lento. Antes do congelamento, a célula é mergulhada em uma pequena quantidade de uma substância protetora e em seguida armazenada em nitrogênio líquido. O processo dura poucos minutos. A principal vantagem da vitrificação (método de congelamento rápido) é que o volume da solução anticongelante é tão reduzido que os estragos no óvulo são mínimos. “Esta técnica é um grande avanço para a reprodução humana”, acredita o especialista em fertilidade e reprodução humana e diretor da Ferticlin Raul Nakano, formado pela Universidade de São Paulo (USP) e com cursos de especialização nas universidades japonesas Keio e Kanazawa.

“A maior dificuldade em congelar o óvulo sempre esteve ligada ao seu tamanho. Basta compará-lo ao espermatozóide para perceber do que estamos falando. Antes de congelar, é preciso tirar a água de uma célula, e para isso é colocada em uma substância, normalmente com sais de sódio, que puxe o líquido para fora”, explica Mariangela Badalotti, professora de Ginecologia e de Bioética da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul e diretora do Fertilitat – Centro de Medicina Reprodutiva. “O problema é que para uma célula deste tamanho perder toda sua água, ela precisava permanecer muito tempo mergulhada na substância, que a danifica.”

A médica lembra ainda que pelo método lento de congelamento também é possível alcançar taxas de sucesso muito boas. “O sódio é substituído por uma substância chamada colina que não entra no óvulo. Dessa maneira, obtemos um índice de 90% de sobrevivência”, afirma. De acordo com a médica, 13 crianças já nasceram pelo método.

As maiores beneficiadas do novo método seriam mulheres com câncer capaz de danificar o ovário. Armazenando seu óvulo, poderiam engravidar após o tratamento. “Além disso, há uma nova tendência de comportamento de mulheres que postergam a maternidade em nome da carreira profissional”, diz Nakano. O problema é que a fertilidade da mulher começa a diminuir mais rapidamente a partir dos 35 anos de idade. Com o óvulo congelado, é possível realizar a fertilização in vitro quando o momento certo ou desejado chegar.

Segundo Raul Nakano, a perspectiva é de que até o final do segundo semestre deste ano o Cryotop comece a ser utilizado por algumas clínicas brasileiras.

É importante lembrar que ainda existe um baixo número de nascimentos por meio do congelamento de óvulo. Apesar de os estudos em animais não terem demonstrado problemas, ainda não há acompanhamento suficiente. Atualmente, existem no mundo cerca de 150 crianças nascidas por congelamento de óvulo, sendo menos de duas dezenas aqui no Brasil.

“No Brasil não há lei para reprodução assistida e a recomendação do Conselho Federal de Medicina é que ela seja usada por casais e mulheres de posse de suas faculdades mentais. Essa opção é um exercício de autonomia e ética”, acredita Mariangela Badalotti, da PUC-RS e do Fertilitat. “O que precisa ficar sempre bem claro é que isso é uma possibilidade, não é possível vender uma certeza. A gravidez pode não ocorrer.”

ÉTICA E POLÊMICA

Uma proposta anunciada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) causou certo incômodo entre cientistas. Pela resolução da agência, as clínicas de fertilização “deverão cadastrar e identificar todos os embriões congelados produzidos por fertilização in vitro e não utilizados no respectivo procedimento”. Ainda segundo a publicação, isto deverá ser feito por Bancos de Células e Tecidos Germinativos (BCTG), seguindo normas estipuladas pela Anvisa. E, além do banco, também há a proposta de se instituir o Sistema Nacional de Cadastro de Embriões-SisEmbrio.

Não se sabe exatamente quantos são e em quais clínicas estão os embriões congelados no Brasil, muito menos se os pais, que são donos desse material, autorizam a doação. Uma questão que poderá ser resolvida com a criação do cadastro nacional, que também é exigência da Lei da Biossegurança. Contudo, a questão que pode gerar polêmica está no fato de a Anvisa ter ido além do cadastro. A agência quer que além da autorização dos pais, cada embrião tenha um número de identificação, determinação considerada praticamente impossível de ser cumprida pelos especialistas que trabalham com o material. A proposta da Anvisa fica aberta para consulta pública até o próximo dia 26. Depois deste prazo, novas discussões sobre o tema devem ser realizadas até a consolidação final da regulamentação.

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Parmenas Alt
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