sábado, 27/04/2024
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Pedro Nadaf Responsável por um rombo de R$ 115 milhões dos cofres públicos de MT só devolve 14%

Responsável por um rombo de R$ 115 milhões nos cofres públicos, o ex-secretário da Casa Civil do governo Silval Barbosa, Pedro Nadaf, devolverá apenas R$ 17 milhões, segundo compromisso firmado em acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal (MPF), em outubro de 2017. O levantamento feito pelo jornal A Gazeta para mais uma matéria da série de reportagens denominada O Crime Compensa? mostra que, a exemplo de seu ex-chefe Silval Barbosa, Nadaf devolverá um valor muito menor se comparado àquele que ajudou a subtrair do erário. Isto porque o político devolveu apenas 14% do que teria extraído em dinheiro público.

O levantamento levou em consideração 6 ações criminais específicas promovidas pelo Ministério Público de Mato Grosso, que tratam de crimes que tiveram a participação direta de Nadaf. Desde que firmou a delação, o ex-secretário está mais ‘protegido’, uma vez que recebeu a promessa do Ministério Público Federal de pleitear a redução da sua pena. Nestas 6 ações analisadas, Nadaf participou do desvio de R$ 115,1 milhões.

Crimes e sigilo

O levantamento também não levou em consideração os números revelados pela delação premiada do próprio Pedro Nadaf.

Apesar dos valores a serem ressarcidos já terem sido revelados pela imprensa no final de 2017, a Justiça nunca liberou o sigilo sobre o processo.

O que se sabe, até o momento, é que Nadaf relatou 48 crimes cometidos pela organização criminosa da qual participava. A maioria destes relatos estão na Sétima Vara Criminal de Cuiabá, sob os cuidados da juíza Ana Cristina Mendes.

* No primeiro caso, o Ministério Público narra o desvio de R$ 7 milhões através da compra de uma área que pertencia a Filinto Corrêa da Costa para ser anexada ao Parque Estadual Águas do Cuiabá.
* No segundo, a desapropriação do bairro Jardim Liberdade provocou um rombo de R$ 15 milhões. 
* Também por conta da compra de terras, desta vez no lago do Manso, o desvio foi de R$ 7 milhões. 
* No quarto caso, o empresário João Batista Rosa teria pago R$ 2,5 milhões em propina para que continuasse a receber incentivos fiscais do governo.
* Também por conta da concessão de benefícios, mas para frigoríficos da JBS, Nadaf auxiliou em um esquema que produziu um rombo de R$ 75 milhões.
* E, no sexto caso, o ex-secretário foi responsável por um prejuízo de R$ 10 milhões ao governo quando comprou, de maneira irregular, livros da gráfica Intergraf E.G.P da Silva ME.

O comerciante

Filho de um imigrante libanês, que se estabeleceu em Cuiabá a partir de 1948, o jovem empresário contava com a sorte de pertencer a uma família já considerada tradicional na cidade. Assim como o pai, presidiu a Federação do Comércio de Mato Grosso (Fecomércio), porém, diferente dele, Pedro fez da prática comercial uma mera passagem, para que pudesse, enfim, chegar ao seu objetivo maior: a política.

“O que atrapalhou o Pedro Nadaf foi o seu ego, ele tinha o ego muito grande, uma vontade muito grande de fazer tudo o que desejava”, conta um membro do governo Silval Barbosa, que trabalhou com o ex-secretário e pediu anonimato ao falar com a reportagem.

Mas ninguém poderia supor que, aquele jovem empresário, afeito a realizar palestras ‘motivacionais’ nas associações de comércio do interior do Estado, poderia deixar o ramo em que nasceu para ingressar no Palácio Paiaguás.

“Ele não gostava de política, evitava ao máximo falar sobre o assunto”, comenta alguém que conheceu o jovem empresário no final dos anos 90, quando Nadaf se tornava liderança no setor.

Aos poucos, ele foi se aproximando do governo, em um processo descrito por muitos como “natural”. Como a Fecomércio realizava convênios com o poder público, principalmente para a formação de mão de obra, o contato foi aumentando. Assim, em 2007, ele se tornava secretário de Estado de Turismo do último governo Blairo Maggi. Enxergando a capilaridade de Silval Barbosa, o secretário é atraído pelo vice por um processo descrito por muitos como pura “osmose”.

O político

A união por ‘osmose’ entre Silval e Nadaf foi ganhando liga, se estruturando politicamente. De um lado Nadaf tinha o apoio de empresários de todo Estado, tendo atuado por anos e anos na defesa de uma agenda que previa redução de impostos e livre mercado. De outro, Silval herdava todo o cabedal político de seu antecessor, que havia apaziguado os ânimos separatistas dos produtores rurais do norte do Estado (de onde o garimpeiro Silval também viera) e pavimentado o caminho para os investimentos públicos.

Silval então tornou-se governador pela primeira vez em 2010, quando Blairo se licenciou para tentar uma cadeira no Senado. Já naquela época Nadaf era secretário de Estado de Indústria e Comércio. Nos anos seguintes, ocuparia o cargo mais alto que obteve politicamente: o de secretário de Estado da Casa Civil.

O ‘operador’ 

Conquanto na superfície tudo parecia perfeito, nos bastidores a história era outra: Sival e Nadaf estruturam a maior quadrilha já descoberta em Mato Grosso, uma “monstruosa” máquina de desviar dinheiro público e lavar dinheiro e um robusto sistema de cobrança de propina que atingia praticamente todos os setores da economia. De um lado, o Silval político, negociador, afeito ao diálogo. De outro, o Nadaf dos números, o operador dos esquemas e o responsável pela cobrança de propina no governo. O homem da caixa que, mais tarde, viria a se tornar uma “caixa preta”.

Parte destas ilegalidades foram descritas na delação premiada de Silval Barbosa. Lá, o nome de Nadaf aparece mais de 200 vezes. O ex-secretário é descrito por Silval como o responsável por movimentar a maior parte dos esquemas: cobrando propina de empresários, realizando pagamentos ilegais de dívida de caixa dois de campanha, ajudando a organizar desvio de dinheiro público através de fraudes em licitações ou compra de terrenos.

A participação de Nadaf era tamanha que Silval reserva ao menos 11 dos mais de 90 eventos descritos em sua colaboração. O ex-secretário cobrou propina do setor do biodiesel, do setor sucoalcooleiros, do setor atacadista, do setor agropecuário, e até do setor industrial – recursos que nem sempre vinham em dinheiro, como no caso da propina recebida da Votorantim, que teria sido paga em “sacos de cimento”.

Por conta de tudo isso, Nadaf ficou preso entre setembro de 2015 e setembro de 2016. Suas sentenças condenatórias somam hoje mais de 10 anos de prisão.

Arrependimento

A reportagem procurou a defesa de Nadaf, que disse que se manifestaria posteriormente. Em contatos anteriores com a imprensa, ele afirma se sentir arrependido e lembrou que a ida ao governo foi sua pior escolha. “Eu não iria para o governo. Eu não gostaria, falando por mim. Não deveria ter ido por esse caminho porque tinha outra vida”, afirmou. “Estou muito arrependido de tudo que fiz. Isso acabou com minha vida e minha carreira. Vou ser condenado para o resto de minha vida”.

Gazeta Digital

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Parmenas Alt
Parmenas Alt
A estrada é longa e o tempo é curto. Não deixe de fazer nada que queira, mas tenha responsabilidade e maturidade para arcar com as consequências destas ações.
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