terça-feira, 14/05/2024
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Um fato que precisa ser apurado

É lamentável que às vésperas de completar 32 anos do assassinato do
jornalista, Vladimir Herzog, o Vlado, nas dependências do nefasto e temido
DOI-Codi, em São Paulo, jornalistas ainda sofram ameaças escancaradas no
exercício da profissão. O episódio lastimável ocorrido no dia 19 de agosto
no município de Juína (735 km a Noroeste de Cuiabá) é, no mínimo, uma
afronta à liberdade de expressão e à liberdade de ir e vir de todo e
qualquer cidadão. E, mais do que isso, é a prova concreta de que o chamado
“coronelismo” ainda impera nos rincões deste Estado, que há muito tenta se
livrar da pecha de “terra sem lei”.

Embora não tenha sido divulgado em nível nacional pelas grandes emissoras de
TV e pelos grandes jornais, o fato ganhou repercussão devido à coragem do
grupo de ambientalistas do Greenpeace e da Opan, que acompanhavam
jornalistas franceses ao município, em divulgar um vídeo de cerca de 11
minutos relatando o absurdo ocorrido. O material está disponível no site You
Tube sob o título “Amazônia: terra de poucos”.

É inaceitável o fato de que ainda hoje, fazendeiros e autoridades políticas
se intitulem donos de um município e expulsem, de forma violenta,
profissionais engajados na causa ambiental e indígena. E mais absurdo ainda,
é o preconceito arraigado nessas pessoas que não se cansam de ameaçar e
aterrorizar os índios Enawene Nawe que vivem naquela região.

O objetivo do grupo que foi expulso de Juína era retratar a redução do
desmatamento e a vida da etnia indígena Enawene Nawe. Porém, nem mesmo a
visita à aldeia eles puderam fazer. Agora, de acordo com reportagens
publicadas por jornais da capital mato-grossense, essas mesmas pessoas que
expulsaram o grupo de Juína estariam ameaçando ambientalistas e de
funcionários da Funai.

A democracia serve pra todos ou não serve para nada, já dizia Betinho. A
arbitrariedade cometida por essas pessoas que se dizem donas de Juína
envergonha todo e qualquer cidadão que defenda o desenvolvimento humano.
Desenvolvimento esse que só se conquista com a garantia da igualdade,
diversidade, participação, solidariedade e liberdade.

Infelizmente ainda hoje, em uma sociedade teoricamente esclarecida, os povos
indígenas são vitimas de um etnocentrismo enfadonho, que não aceita,
despreza e desqualifica o diferente. E com essa mesma postura, são tratados
todos que, com desenvoltura e livres da mesquinhez humana, se aproximam e se
engajam na luta das chamadas minorias.

Pelos relatos divulgados na imprensa mato-grossense, Juína vive uma situação
de “violência anunciada”, ou seja, um confronto entre os “donos do
município” e os índios pode ocorrer a qualquer momento. Será que vamos
chegar ao extremo novamente? Será que mais uma vez Mato Grosso ganhará
destaque pela violência que impera em alguns de seus municípios,
principalmente os mais distantes da capital?

O que aconteceu em Juína foi a institucionalização da violência e do
desrespeito. Por se sentirem contrariados em seus interesses econômicos,
autoridades políticas e fazendeiros se uniram para manter um grupo de
profissionais como reféns na Câmara Municipal e, depois de interrogá-lo, de
uma forma coercitiva, expulsaram tal grupo da cidade sob escolta de
policiais. Há argumento que justifique tais ações? Com a palavra o
Ministério Público e demais instituições competentes.

Lamento não só por esses profissionais que tentaram trabalhar em Juína e
pelo povo Enawene Nawe que vêm sofrendo ameaças, lamento pelas pessoas de
bem que vivem nesse Estado e que não merecem conviver com tamanha
truculência e desprezo pela vida e pela dignidade do ser humano.

Marcia Raquel é jornalista em Cuiabá
marciaraquel_o@hotmail.com

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Parmenas Alt
Parmenas Alt
A estrada é longa e o tempo é curto. Não deixe de fazer nada que queira, mas tenha responsabilidade e maturidade para arcar com as consequências destas ações.
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