quarta-feira, 15/05/2024
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Uma mentira dita muitas vezes torna-se verdade

A frase do título acima é de Joseph Goebbels, ministro da propaganda de Hitler, mas com muita propriedade poderia ser atribuída a qualquer membro do governo Lula, incluindo o próprio.
O problema da mentira é que mesmo quando o mentiroso diz uma verdade, fica sempre a dúvida: será?
Vivemos um paradoxo: um presidente com uma popularidade tão alta e um governo com uma credibilidade tão baixa.
Aconteceu o apagão. O afoito ministro Lobão, mesmo sem fazer uma investigação ampla, e na ânsia de se livrar da batata quente, vem a público culpar a natureza, dizendo que foi um raio atmosférico que caiu na rede e desarmou o sistema. A seguir, a rubicunda ministra Dilma – ex das Minas e Energias e atual poderosa ministra da Casa Civil, correu a confirmar a versão, dando o caso por encerrado. Daí a coisa engrossou. Veio um técnico do INPE e disse, com todas as letras, que ambos mentiram demonstrando que não caíram raios a menos de 2 km do local indicado pelo ministro Lobão, a substação de Itaberá (SP), no que foi confirmado pelos cidadãos locais. O próprio presidente Lula não se convenceu da apressada versão dos ensaboados ministros e pediu uma investigação mais profunda para saber a verdade. Que barafunda.
Crises podem acontecer a qualquer hora. Ninguém está a salvo dos fenômenos naturais. Uma queda de raios atmosféricos podem sim afetar o sistema de transmissão de energia elétrica. Mas o que me preocupa mesmo são as mentiras. Porque o governo não vem a público dizer a verdade, somente a verdade. Precisa ficar buscando desculpas? Não deveria ser assim. Quando o governo nos falasse não deveríamos ter a menor dúvida, afinal o governo é nosso gestor maior, nosso paizão. É nele que confiamos nossas esperanças.
Quando setores do governo minimizam os efeitos do blecaute, estão, na realidade, querendo encobrir uma situação realmente preocupante: a de que nós estamos trabalhando no limite da nossa capacidade. Esta é a verdade nua e crua. E a situação só não é mais grave porque o Brasil tem crescido a taxas pífias na última década. Estivesse o país crescendo a taxas de 5% ou 6% ao ano e nós já teríamos tido um colapso há muito mais tempo.
O baixo investimento em infraestrutura compromete as possibilidades futuras do país e está entre as causas do baixo desempenho econômico das últimas décadas. No setor de infraestrutura de transporte, por exemplo, os investimentos da União, que já foram próximos a 2% do PIB na década de 70, do século passado, caíram hoje para algo em torno de 0,5% do PIB. Isso, enquanto países emergentes, como o Brasil, investem muito mais: o Vietnã investe 6% do PIB em transporte; a China, 4% e a Índia, 2% (“Não estamos prontos para crescer”. Exame. São Paulo: Abril, n° 898, 01 ago. 2007, p. 30). Se quisermos ter um crescimento chinês temos que ter investimento chinês. Não tem outro jeito.
Na proposta orçamentária do governo federal para 2010 estão previstos investimentos públicos totais na ordem de 47 bilhões de reais, para um PIB estimado de 3,1 trilhões de reais, o que dá uma taxa de 1,5% na relação investimento/PIB. Em 1969, somente em infraestrutura os investimentos alcançaram a taxa de 5,3% do PIB.
Segundo especialistas ouvidos em recente fórum em São Paulo, o Brasil não tem infraestrutura para crescer 6% ao ano, conforme propagandeado pelo governo. Os principais gargalos apontados são: as estradas, os portos e os projetos de geração de energia. No caso específico da energia elétrica, a FIESP – Federação da Indústria de São Paulo, já previa em 2004, que caso o Brasil crescesse a taxas de 4% ao ano, haveria escassez em 2009. O que de fato está ocorrendo, mesmo o Brasil crescendo a taxas menores.
A situação é grave e estão empurrando para debaixo do tapete com mentiras e trololós. O presidente Lula deveria se preocupar menos em tentar consertar o mundo, e pensar mais no Brasil. Deixar de dar conselhos a todos, por tudo, e encarar os problemas como de fato o são, sem subterfúgios. É isso que o Brasil espera de um presidente.

Waldir Serafim é economista e professor universitário.

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Parmenas Alt
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