sábado, 27/04/2024
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A biografia da futura jazida de fosfato de Mato Grosso

O Governo de Mato Grosso no último dia 1° de setembro ao anunciar a descoberta do depósito bi-mineral de ferro e fosfato no município de Mirassol D”Oeste deixou escapar um pouco da história de como essa descoberta se processou. A urgência do anúncio da descoberta se fez diante de sua magnitude, de sua importância sócio-econômica para o futuro do Estado e mesmo do País, que poderá deixar de ser importador de fosfato para – quiçá – exportador desse importante componente dos insumos agrícolas.

Os depósitos de ferro, estimado em 11 bilhões de toneladas, com teor de 41% e o de fosfato, com cerca de 428 milhões de toneladas, com teor de 6%, segundo dados do relatório preliminar da CPRM – Serviço Geológico do Brasil, foram descobertos meio que por acaso, se assim pode-se dizer – mas, nada é por acaso, senão fruto do trabalho e determinação de algumas pessoas.

As fácies ritmicos¹ foram percebidos pela primeira vez, em maio de 2005, quando o geólogo Gercino Domingos da Silva, pós-graduado em impactos ambientais e mestrado em recursos minerais, participava do projeto de pesquisa sobre calcário. Essa pesquisa sobre calcário, do convênio CPRM/Metamat/Sicme, resultou na publicação do trabalho “Avaliação de Rochas Calcárias e Fosfatadas para Insumos Agrícolas do Estado de Mato Grosso”, em 2008.

Gercino Domingos, durante a visita in loco quarta-feira (09.09), contou que, como é um geólogo à moda antiga, “que gosta de conversar com as pedras”, ao andar pela região da Fazenda Ratel à margem do Rio Jauru, notou “essas rochas diferenciadas” na Serra do Caetés. No ano de 2007, ao iniciar o curso de mestrado, ele optou em trabalhar em sua dissertação de mestrado, sob a orientação dos doutores Jackson da Paz e Gerson Sais (ambos da Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT), essa região do Estado.

Começaram os estudos de análises de 32 amostras das fácies rítmicos. Essa grande amostragem foi levantada em novembro de 2009 pelos geólogos Gercino Domingos e Felicíssimo Borges em toda a região da Serra do Caetés, o Morro das Fazendas Rapel, Porto Seguro, Bahia Grande e Bahia da Capivara, Estância Valpramar e morro da Barranqueira. Essas amostras constataram os teores de ferro entre 14,8% a 62,4% e teores de fosfatos entre 0,48% a 5,47%. Estava assim constatado o potencial de um possível depósito de fosfato e ferro na região.

“A descoberta desse depósito foi uma grata surpresa”, afirma. Segundo o geólogo, a região que estava mapeada desde a década de 70 com outro tipo de rocha. “Eu tive a felicidade de descobrir que não é arenito mais um rítmico com certo teor de ferro e fosfato”. Essa descoberta – na parte acadêmica – vai atrair pesquisadores que devem estudar a origem dessas rochas. Gergino Domingos diz que não conhece na literatura nenhum depósito desse tipo.

Quanto aos benefícios econômicos eles são inumeráveis. “Quando começar a produzir fosfato Mato Grosso não vai mais precisar importar tudo de fora. Quando se está importando, está mandado divisas para fora. Como Mato Grosso é o maior produtor de grãos – e vai continuar sendo – e como temos grandes áreas de pastagens degradadas; cada vez mais precisamos usar insumos agrícolas, principalmente o nitrogênio – fosfo – potássio (NPK)”, considerou o geólogo.

Fosfato Brasil – Quando o Governo Federal lançou o programa Fosfato Brasil, Mato Grosso, segundo o secretário de Minas e Energia Pedro Nadaf, já estava preocupado com o abastecimento de fosfato e por isso foi um dos primeiros estados a aderir ao programa federal. O projeto Fosfato Mato Grosso tinha como foco a área do Planalto da Serra/Araras, mas não incluía a Serra do Caetés. Essa região foi apresentada aos técnicos da CPRM – Serviço Geológico do Brasil pelo geólogo Gercino Domingos.

O objetivo do projeto Fosfato Brasil é o de aumentar as reservas brasileiras e a pesquisa é realizada com aplicação de métodos de prospecção geofísica, e mapeamento aspectral, prospecção geoquímica e estudos laboratoriais e tecnológicos.

O consumo de fertilizantes cresce de forma significativa em todo Brasil e mais especificamente em Mato Grosso – o maior produtor de grãos do País – com participação importante na balança comercial.

A preocupação do Governo Federal quanto a questão do fosfato é devido a sua criticidade. O Brasil é dependente externo no suprimento desse insumo decisivo e estratégico para a nossa agricultura, na qual o fósforo não tem substituto. Essa dependência externa provoca uma indesejável vulnerabilidade à nossa agricultura, além do déficit crônico no comércio exterior dessas “commodities”.

Quando a CPRM iniciou, em 2009, o mapeamento da área definida como Projeto Planalto da Serra, região a noroeste de Cuiabá (MT), visando o estudo das características das rochas ultrapotássicas, dimensões e potencialidades, a expectativa era muito grande, porém não alcançava o “teor” da descoberta. O relatório preliminar mostra uma área de 43 quilômetros quadrados. Segundo os técnicos, “um depósito de porte internacional, pela quantidade e pelo teor do bi-fosfato-ferro”. Tanto que o governador Silval Barbosa, na hora do anúncio, chegou a fazer uma analogia com o Pré-Sal, pelo potencial econômico. Mato Grosso atualmente consome 610 toneladas/ano de fosfato. O depósito, calculado pelos técnicos da CPRM, equivale a 700 anos de consumo do Estado de Mato Grosso.

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¹ As fácies (conjunto dos caracteres de uma rocha do ponto de vista de sua formação) rítmicos (caráter rítmico é emprestado pela própria fácies em laminação horizontal)

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Parmenas Alt
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