quinta-feira, 16/05/2024
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Ney Matogrosso diz que corrupção do PT é mais visível

O cantor e ator Ney Matogrosso, 72 anos, criticou durante os gastos para a Copa do Mundo, as condições sociais e a qualidade dos serviços públicos brasileiros, em uma entrevista para a emissora de televisão de Portugal RTP. De acordo com o artista, o povo brasileiro, não só a classe média, tem “enorme desconforto” com o Mundial de Futebol. Sobraram críticas para o programa Bolsa Família, a presidente Dilma Rousseff, o ex-presidente Lula e a corrupção, que seria “muito mais visível” no governo PT.

“O governo brasileiro estará gastando bilhões de reais para fazer esses estádios de futebol – que muitos serão ‘elefantes brancos’, porque nunca mais haverá nada lá – e, nos hospitais públicos, as pessoas estão sendo jogadas no chão em cima de um paninho”, disparou ele, em conversa com o jornalista Vítor Gonçalves. De acordo com Ney, nos anos 50, a saúde era “exemplar” e hoje é “uma vergonha”, assim como a educação, classificada atrás mais de 100 países.

Ele criticou a qualidade do transporte público, motivo inicial dos protestos e manifestações pelo país “Somos o país que mais paga imposto no mundo. Para onde vai o dinheiro? Não se reverte em nada. O transporte público é horroroso.” Ney também condenou a remoção de pessoas para a construção de estádios. “Tiram a casa deles; dizem que vão dar um apartamento um dia. Então fica aquela quantidade de gente esparramada pela cidade, dormindo pelo meio da rua.”

Para o cantor, o programa Bolsa Família resolve apenas parte do problema: matar a fome das pessoas, mas não serve para melhorar a qualidade de vida das pessoas atendidas. Ney afirma que só pessoas que colocassem seus filhos na escola deveriam receber o benefício. “Não! Quanto mais filhos, mais ganham. Então eles fazem filhos!”. Segundo o cantor, mesmo assim, ainda existem 10 milhões de miseráveis no país. “E aí? A presidente Dilma – a eleição está chegando – ela disse que vai dar R$ 10 a mais”, ironizou.

Ney Mato Grosso se disse crítico a todos os partidos políticos, mas afirmou que, “no PT, a corrupção é muito mais visível a corrupção”. Ele disse crer que as irregularidades com o dinheiro público acontecem com todos os partidos. “Sempre imaginei que houvesse algum ideal levado na política. Não vemos isso. É corrupção diariamente, semanalmente, escândalo de corrupção no país.”

Veja a entrevista no trecho a partir dos 19h30 minutos:

RTP – Como está o Brasil? Há muitas manifestações. Ouvimos de um certo desconforto com o Mundial de Futebol…

Ney Mato Grosso – Um certo não. Há um enorme desconforto porque o governo brasileiro estará gastando bilhões de reais para fazer esses estádios de futebol, que muitos serão ‘elefantes brancos’, porque nunca mais haverá nada lá, e nos hospitais públicos as pessoas estão sendo jogadas no chão em cima de um paninho. São imagens que você vê na televisão, diariamente. Está piorando, nunca a saúde no Brasil foi decente. Foi decente nos anos 50. A saúde pública no Brasil era exemplar. Era copiado na América Latina. Hoje em dia a saúde pública no Brasil é uma vergonha. As pessoas vão para os hospitais públicos e se deitam no chão. A educação no país é vergonhosa. Não tem um levantamento que se faz sobre a educação no mundo? Somo os 150º e tanto. Somos o país que mais paga imposto no mundo. Para onde vai o dinheiro desses impostos? Nós não temos nada. Esse dinheiro não se reverte em nada. O transporte público é horroroso. Como é que o povo pode estar satisfeito com isso, porque tudo é padrão Fifa? Então que seja ‘padrão Fifa’ para o povo brasileiro e não para a Fifa, não é isso?

Mas temos ouvido que, no governo Lula, houve um movimento de muito pobres passando para a classe média. Isso é verdade?

O presidente Lula resolveu dar uma Bolsa Família, que é R$ 70. Dá o quê? 30 euros por mês. Para quem passa fome não resolve. Mas compra um arrozinho e um feijão. Mas você não pode só dar o dinheiro. O que acontece? Se você tem mais filhos, você tem direito a mais uma porção [de dinheiro; em média, os benefícios giram em torno de R$ 150 segundo o governo]. Para você dar uma coisa dessas, necessariamente você tem que botar seus filhos na escola, pra que, futuramente, elas sejam instruídas e trabalhem para ganhar seu dinheiro. Não! Quanto mais filhos, mais ganham. Então eles fazem filhos! E aí? A presidente Dilma – a eleição está chegando – ela disse que vai dar R$ 10 a mais [na verdade, 10% ou R$ 7 a mais] no Bolsa Família. Isso significa alguns milhões…

O Ney é muito crítico ao PT, que governa o Brasil?

Sou crítico com tudo, não só ao Partido Trabalhista [dos Trabalhadores]. Sou crítico com a política. Sempre imaginei que houvesse algum ideal levado na política. Não vemos isso. É corrupção diariamente, semanalmente, escândalo de corrupção no país.

Vê diferença entre o PT e os demais partidos?

No PT, a corrupção é muito mais visível a corrupção. É muito mais visível, mas não estou dizendo que é só o PT. Eu sei que todos são corruptos. Em todos os partidos há corrupção.

Mas nos últimos anos a tendência nos últimos anos não foi para a melhoria da maior parte dos brasileiros? Ou estou enganado?

É essa Bolsa Família.

Os serviços? Nada disso melhorou?

Nada disso. O que melhorou foi isso: que essa gente saiu da extrema miséria para a pobreza enorme.

O que o ex-presidente Lula e Dilma dizem é que passaram da pobreza para a classe média. De que haveria uma classe média maior no Brasil do que há alguns anos.

Se considerar isso classe média, sim. As pessoas agora podem comer, podem comprar um frango. Antigamente era miséria, miséria, miséria, de não ter o que comer. Mas ainda tem. Ainda existem no Brasil 10 milhões de miseráveis. Num país como o nosso, onde você joga um grão de milho em um monturo de cimente e nasce um pé de milho, é imperdoável.

E agora os brasileiros estão pedindo serviços de qualidade, com padrão Fifa de qualidade.

Sim, claro. Por que não? Com tanto dinheiro que rola lá, se tem dinheiro para fazer esses estádios, por que esse dinheiro já não foi? Nós não precisaríamos ter essa Copa. Já que tinha tanto dinheiro disponível, por que não resolveram os problemas do nosso país, de transporte, de educação, de saúde?

Acha que essa sua posição é da maioria no Brasil, apesar de gostarem muito de futebol?

Sim, sim. Não sei se prefeririam que não tivesse uma Copa. Tudo bem que houvesse a Copa, mas que houvesse um zelo. Sabe o que está acontecendo para construírem os estádios? Eles estão tirando moradores de áreas enormes. Tiram a casa deles. Dizem que vão dar um apartamento um dia. Então fica aquela quantidade de gente esparramada pela cidade, dormindo pelo meio da rua.

Acha que há uma maior consciência dos brasileiros dos seus direitos e do direito de exigir do governo melhor educação e saúde?

Sim. Não estou falando de classe média. Estou falando de gente pobre exigindo os direitos, reclamando e dizendo que não pode ser mais…

Isso é uma coisa nova no Brasil?

Sim. Essa consciência é porque o escândalo é tamanho que até essas pessoas param para refletir.

Eu o vejo muito crítico com o estado do Brasil.

Sou crítico. Não posso estar satisfeito com o que vejo. Adoraria viver num país civilizado, com direitos respeitados. No Rio de Janeiro, todo dia tem um assassinato e uma pessoa pobre morta, a bala. Fica assim: “Ah, foi tiro entre bandido e polícia”. Você vai ver não foi tiro de bandido. O [ajudante de pedreiro] Amarildo [Dias de Souza] sumiu. Uma pessoa que a polícia pegou levou para a UPP [Unidade de Polícia Pacificadora] e desapareceu. Meses depois – e disseram que não sabiam dele – eles mataram ele, levaram dentro de um camburão não sei pra onde, levaram não sei pra onde, não sei pra onde, e deram um sumiço no corpo dele.

É típico dos regimes autoritários.

Mas o que estamos vendo é um regime autoritário. Não digo a Presidência da República, mas o regime…

Fala dos governadores?

Sim, a coisa policial é autoritária e facista. É facista.

Estou surpreendido com sua convicção do que é o Brasil.

Infelizmente é o Brasil. Adoraria dizer que tudo está maravilhoso, que o povo está feliz, bem tratado, bonito e viçoso, mas não é.

 

 

 

 

 

Eduardo Militão

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