domingo, 19/05/2024
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Radicalismo de Lula afasta Brasil de posição de liderança na América do Sul

Usando discursos cada vez mais radicais e ideológicos, o mandatário brasileiro tem dificuldade para se aproximar de lideranças de direita

Fonte: Gazeta do Povo

Desde que assumiu o Palácio do Planalto no último ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) definiu a política externa como uma das prioridades de seu terceiro mandato. O petista tentou se projetar com um líder mundial mas, na avaliação de analistas, não atingiu nem o objetivo de ser reconhecido como uma liderança regional, segundo analistas ouvidos pela reportagem. Usando discursos cada vez mais radicais e ideológicos, o mandatário brasileiro tem dificuldade para se aproximar de lideranças de direita, o que dificulta sua projeção como líder e até mesmo como intermediador de crises na América Latina.

“O Lula, neste primeiro momento, busca aproximação de fato somente com seus pares. Ele conversa bastante com o Gustavo Petro (Colômbia), tenta apaziguar a questão da Venezuela, se aproximou até mesmo da Guiana, vai para o Chile em maio… Ele busca essa aproximação com pares antes de tentar expandir sua influência política para aqueles que não são”, analisa Vito Villar, que é consultor de política internacional da BMJ Consultores Associados.

Nesse contexto, o brasileiro não tem uma proximidade com os presidentes direitistas Daniel Noboa, do Equador, Javier Milei, da Argentina, e Santiago Peña, do Paraguai. Uma evidência disso é que o petista não foi convidado em abril para o Foro Llao Llao em Buenos Aires, um tradicional encontro econômico e tecnológico promovido pela Argentina em Bariloche. Além de empresários, o evento contou com a participação dos presidentes do Uruguai e do Paraguai, que foram convidados por Milei.

“Tem sido difícil a aproximação dos dois polos políticos, normalmente presidentes de esquerda e presidentes de direita têm se aglutinado no seu próprio grupinho e tem sido difícil a aproximação de ideias diferentes. Ou seja, promover uma caminhada juntos mas com ideias divergentes”, afirma Vito.

O presidente brasileiro buscou uma integração da América do Sul logo no início de seu terceiro mandato. Para tentar mostrar força, organizou em maio de 2023 no Brasil uma reunião de presidentes da América do Sul no âmbito da Unasul (União das Nações Sul-Americanas). A ideia era reviver o bloco com o objetivo de negociar com o resto do mundo com mais força.

Porém o evento fracassou após Lula dar um tratamento especial ao líder venezuelano, Nicolás Maduro, e minimizar a ditadura na Venezuela, dizendo que o autoritarismo no país seria apenas uma narrativa. Líderes de direita e de esquerda deixaram o Brasil se queixando das declarações feitas pelo petista.

Os acenos ao ditador de esquerda Daniel Ortega, da Nicarágua, que vinham ocorrendo desde antes da eleição do petista e as tentativas do governo de atrapalhar a eleição de Javier Milei, na Argentina, também geraram desconforto a Lula.

Durante Comissão dos Direitos Humanos das Nações Unidas (ONU), em março de 2023, o governo Lula propôs o “diálogo” com a Nicarágua. Em declaração, o embaixador Tovar da Silva Nunes em Genebra, na Suíça, afirmou que “o Brasil está pronto para explorar meios para que essa situação seja tratada construtivamente em diálogo com o governo da Nicarágua e todos os atores relevantes”.

De forma indireta, o governo de Lula também buscou apoiar a reeleição do presidente Alberto Fernández, na Argentina. Após a piora da crise econômica do país, Fernández apresentava altos índices de rejeição entre os argentinos. Um amigo de longa data de Lula, o brasileiro não chegou a declarar apoio ao candidato peronista, mas buscou formas de fortalecer seu governo como uma tentativa de melhorar sua imagem frente ao eleitorado.

Em uma dessas tentativas, o petista tentou incluir a Argentina nos Brics (bloco formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) para que o país tivesse acesso aos financiamentos o Banco dos Brics. Lula também tentou destravar um financiamento ao país através do BNDES para a conclusão do Gasoduto Néstor Kirchner, em Vaca Muerta. As tentativas, contudo, não deram certo e Javier Milei saiu vitorioso da disputa.

Lula diz, por sua vez, que tem boas relações com todos os presidentes e países. Sua aproximação de ditadores é um dos fatores que o afastam de um papel de liderança na América Latina, especialmente porque o presidente brasileiro não usa essa proximidade para defender soluções diplomáticas para o fim do autoritarismo desses regimes.

Vito Villar afirma que dificilmente Lula vai conseguir articular seu desejo por uma integração regional. O mal-estar com o argentino Javier Milei ainda torna essa possibilidade mais distante, conforme avalia o especialista da BMJ. “As duas principais potências da região que mal conversam, como você cria um grupo político e de articulação política regional sem a segunda maior potência da região?”, questiona Villar.

Da redação do AltNotícias com apoio da Gazeta do Povo

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Parmenas Alt
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